Sistema que abastece a capital está em 48,1%, mais baixo do que o registrado antes da crise hídrica de 2014 e 2015
O nível de água do sistema Cantareira, principal manancial da região metropolitana de São Paulo, está em 48,1%, sem considerar a reserva do chamado “volume morto”. Esse valor é mais baixo que o registrado antes da crise de 2014 e 2015 e chama a atenção de especialistas.
Naquele período, o sistema administrado pela Sabesp para fornecer água em condições de uso para a população de grande parte da capital e de alguns municípios do entorno, sofreu os efeitos de uma das piores crises hídricas da história de São Paulo, consequência da ausência de chuvas e, principalmente, da má gestão do governo do estado, sob comando de Geraldo Alckmin (PSDB).
Segundo a empresa, em 2013, quando surgiram os primeiros alertas de que a situação se tornaria crítica, o volume de água do sistema era de 61,5% de sua capacidade de armazenamento.
Amauri Pollachi, do Conselho de Saneamento e Recursos Hídricos, ligada ao governo do estado, afirma que a preocupação existe, mas ressalva que a retirada de água do reservatório hoje é “sensivelmente menor” que era em 2013 – de 33 mil litros por segundo, contra atuais 25 mil litros por segundo.
Já Anna Carolina Lobo, do Programa Mata Atlântica e Marinho, da WWF Brasil, alerta que “é possível que a gente enfrente uma nova crise hídrica” e que a cidade deve entrar, desde já, em estado de atenção. (fonte: Rede Brasil Atual)
Crise hídrica é permanente
Um estudo realizado pelo economista ecológico Bruno Peregrina Puga, da Unicamp, aponta que São Paulo “perdeu a oportunidade de aprender” com a crise hídrica (2014/2015), implantando soluções mais práticas e efetivas para lidar com a gestão da água. Em sua tese, o pesquisador defende a necessidade de ampliar o leque de ferramentas para garantir o abastecimento da população. “Nossa crise hídrica é permanente”, avisa.
Em entrevista, no último mês, o ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, também fez revelações contundentes sobre a gestão tucana em São Paulo, dizendo que “obedeceu exclusivamente a interesses eleitorais”.
“Eu acho que o símbolo de um governador inaugurando captação de volume morto, quando na verdade deveria estar alertando a população para os problemas que têm para se enfrentar, eu penso que é o símbolo de como isso foi trabalhado politicamente”, comenta Andreu.
À época, a Organização das Nações Unidas condenou a atitude do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e sua estatal, por omitirem o tamanho da crise à população. Segundo a ONU, informar os paulistas sobre a necessidade de racionamento de água, poderia diminuir o impacto dos problemas gerados pela seca.
Infelizmente, a gestão da água, bem essencial à vida, é tratada com descaso e sob interesses escusos pelos governantes.
ONDAS fará o debate permanente sobre a questão da água e do saneamento
O Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento – ONDAS –, recém-criado, irá promover a pesquisa e o debate a questão da água e do saneamento em nosso país.
O observatório também será uma das formas de resistência à privatização do saneamento no país. Ele foi criado no último dia 25 de abril, em Brasília, por entidades sociais, sindicais e acadêmicas. Seu objetivo é formular políticas para o saneamento básico, lutar contra qualquer tentativa de privatização da água e elaborar documentos no setor.
A assembleia de fundação (oficial) do ONDAS está agendada para o próximo dia 7 de junho, às 17 horas, na Universidade de Brasília – UnB. Leia: Pela resistência contra qualquer tentativa de privatizar a água é criado o Observatório Nacional do Saneamento
Asssista reportagem sobre o baixo volume de água no sistema Cantareira:
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