artigo: Luis Nassif
A economia é a maior fonte geradora de fakenews.
A jogada é simples. Como o cidadão comum não tem muita noção de valores, de proporção, montam-se jogadas em cima de números irrelevantes, visando preparar as grandes tacadas para os espertos.
É o caso da tentativa de privatização da Eletrobras.
Apenas o valor físico da capacidade de geração da Eletrobrás pode chegar a R$ 350 bilhões. Somando-se o custo imaterial das concessões, se chegaria aos R$ 700 bilhões. Empresas elétricas nacionais, de países de parque elétrico muito menor, como Espanha, Portugal e França, valem esse valor, conforme pode-se conferir no Xadrez da venda da Eletrobras.
A Eletrobras é empresa-chave para a segurança energética brasileira, pelo fato de ser grande geradora de energia barata, pois que proveniente de hidrelétricas já amortizadas.
No entanto, seu controle está sendo colocado a venda por R$ 12 bilhões. Chegou-se a esse valor através de uma manipulação, levando em conta apenas o valor contábil da empresa.
Nenhuma empresa é vendida por seu valor contábil, mas pelo seu fluxo futuro de resultados. O fluxo de resultados da Eletrobras é em cima de energia barata, vendida em contratos para as distribuidoras.
O que os espertos pretendem é simples:
- Vende o controle por uma ninharia.
- No momento seguinte, descontrata-se a energia. Ou seja, em vez de entregar a energia para distribuidoras, em contratos de longo prazo, permite-se que a energia seja colocada no mercado à vista.
- Esse movimento produzirá dois desastres no setor. O primeiro, a explosão das tarifas. O segundo, a explosão no mercado de energia livre, já que a Eletrobrás exerce um papel regulador e moderador de tarifas.
- Lucros astronômicos não apenas para quem comprar, mas para os sócios privados atuais: grupo Jabbur e 3G, de Jorge Paulo Lehman. Sem investir um centavo, o valor de sua participação se multiplicará por dezenas de vezes.
Explicamos várias vezes que uma das formas mais utilizadas de fakenews são as informações econômicas descontextualizadas.
Tome-se o caso de Mansueto de Almeida, Secretário do Tesouro Nacional.
Incluiu no Projeto de Lei Orçamentária os R$ 12 bilhões da venda do controle da Eletrobras. E, agora, diz que se a Eletrobras não for vendida, o governo terá que retirar o dinheiro de outras áreas. E, portanto, |quem paga é a população|, como afirmou o inefável João Amoedo, em seu Twitter.
Vamos, primeiro, às informações sobre valores.
Para o próximo ano, há uma previsão de receita fiscal da ordem de R$ 3,4 trilhões de reais. Vamos comparar os dois valores da maneira correta:
A comparação não está muito clara? Vamos transformá-la em gráfico:
Ou seja, vende-se um patrimônio público dezenas de vezes mais valioso, cria-se um quadro de aumento expressivo das tarifas de energia (bancado por todos os consumidores), em troca de uma receita correspondente a 0,35% do orçamento previsto.
O segundo fakenews é a história de que a União terá que investir na Eletrobras. Trata-se de um sofisma recorrente, que pode ser manifestação de ignorância ou de má-fé. Amoedo não é ignorante em matéria financeira.
- O setor privado vai investir se houver retorno do investimento.
- Havendo retornou, há várias maneiras da Eletrobras conseguir se financiar no mercado. A forma mais usual de financiamento de investimentos de longo prazo é estimar o fluxo de resultados futuros e converter em títulos que são vendidos no mercado.
- Ao sugerir que o investimento na Eletrobras será retirado do orçamento público, Amoedo mostra ter tanto conhecimento do orçamento público quanto seu colega Paulo Guedes. São valores que não se misturam.
Artigo foi publicado originalmente no Jornal GGN
ÁGUA, ENERGIA E SANEAMENTO NÃO SÃO MERCADORIAS!