“Nada é mais impactante na saúde do que água de qualidade e saneamento básico”, diz especialista
Com o surto de hepatite A, que infectou mais de 70 pessoas na comunidade do Vidigal (cidade do Rio de Janeiro) nas últimas semanas, uma antiga discussão sobre a questão do saneamento básico em áreas carentes da cidade foi reacendida.
De acordo com o infectologista e presidente do Instituto Vital Brazil, Edimilson Migowski, apesar de não se saber exatamente a origem do contágio, uma das suspeitas é de que tenha havido uma contaminação de esgoto em tubulações da água que sobe para a comunidade, o que deixaria mais uma vez clara a precariedade dos serviços de distribuição de água e a falta de saneamento em comunidades pobres da cidade.
“Pode ter sido um vazamento de esgoto, alguém que captou e utilizou água de fonte suspeita em alimentos ou higiene, alguma cisterna industrial contaminada, ou mesmo um restaurante popular que tenha sido contaminado por alguém que foi exposto ao vírus”, afirmou.
Um depósito de bebidas e um restaurante localizados na Avenida Presidente João Goulart, no Vidigal, foram interditados. Além desses dois endereços, foi detectada contaminação da água em um chuveiro da praia do Sheraton Hotel, na Avenida Niemeyer, que fica abaixo do morro.
Segundo Edimilson, contágios desse tipo podem ocorrer pelo acesso de pessoas à água contaminada, fato comum em localidades sem saneamento básico adequado. “No próprio Vidigal houve um surto de cólera há anos, e se descobriu que o contágio se deu em jovens que jogavam bola e bebiam água perto de uma fonte que estava contaminada por esgoto”, afirmou.
Para evitar que surtos como esse continuem ocorrendo, é importante que haja iniciativas de responsabilidade das autoridades, afirma o infectologista. “Nada é mais impactante na promoção da saúde do que água de qualidade e saneamento básico. Se eu tivesse de optar entre vacinar toda uma comunidade e dar água de qualidade e saneamento, não podendo realizar as duas coisas, escolheria a segunda opção”, explicou.
Porém, mesmo a vacinação é algo que não está à disposição de todos. Segundo Edimilson, a vacina contra hepatite A só é concedida gratuitamente para crianças nos primeiros meses de vida. Quem é mais velho precisa recorrer à rede particular de saúde para se prevenir. “Falta disponibilidade para a vacinação de pessoas nessas áreas. Acho que seria importante que cada município tivesse um estoque para apagar um incêndio num caso desses”, ressaltou.
Enquanto isso, ele explicou como as pessoas podem se prevenir contra doenças do tipo. “Se não puder lavar, descascar, ferver, melhor é não comer. Mas o melhor mesmo é ter uma garantia da água que você tem. Também é importante que haja educação nesse sentido”, complementou.
Tuberculose: problema crônico na Rocinha
Com população estimada em mais de 100 mil habitantes, a Rocinha, outra comunidade da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, tem uma das maiores taxas de incidência de tuberculose da América Latina (372 casos por 100 mil habitantes), um índice 11 vezes maior do que o do Brasil (33,8 casos por 100 mil). De acordo com o especialista, “problemas sociais” são os maiores responsáveis pela proliferação da doença no local.
“As casas não têm ventilação por causa da aglomeração de construções, não bate sol. A tuberculose anda de mãos dadas com problemas sociais, alcoolismo, doenças que causam imunodeficiência, desnutrição”, afirmou Edimilson, justificando o número elevado de casos na região.
“Além disso, tem outro fator. Depois de uma ou duas semanas de tratamento, a pessoa se sente melhor e interrompe o tratamento. Por causa disso, a tuberculose volta, se tornando mais resistente. Em comunidades em que esse tratamento não for bem feito, podemos ter uma bactéria ainda mais resistente como consequência”, lembrou o infectologista. (fonte: Jornal do Brasil)