A Eletrobras abre nesta segunda-feira (21 de janeiro) um novo programa de demissão voluntária com previsão de saída de dois mil funcionários. E menos trabalhadores pode provocar apagão do sistema

Com a posse de Jair Bolsonaro (PSL/RJ), avança de forma acelerada o processo de privatização da Eletrobras e o projeto de desmonte do patrimônio público brasileiro iniciado pelo ilegítimo Michel Temer (MDB-SP).

A nova ofensiva para entregar a estatal nas mãos da iniciativa privada foi anunciada pelo presidente da Eletrobras, Wilson Pinto Jr., mantido no cargo por Bolsonaro. A partir desta segunda-feira (21/1), um novo Programa de Demissão Consensual (PDC) está aberto e, segundo ele, tem como alvos os trabalhadores e trabalhadoras da área administrativa da estatal.

Essa decisão, que ignora a obrigação do governo em garantir o acesso da população à energia elétrica, prestando um serviço de qualidade e com preços acessíveis, poderá colocar em risco as operações e manutenção das usinas do sistema Eletrobras e provocar apagões elétricos em todo o País.

O alerta é feito pelo engenheiro da Eletronorte, Ícaro Chaves. Segundo ele, o real objetivo do atual presidente da Eletrobras com os planos de demissão e o sucateamento da estatal é vender mais barato os ativos da empresa em um processo de privatização.

“Essa história de demissão voluntária é manjada. O objetivo é desvalorizar a empresa para vender barato e isso vai colocar em risco a segurança energética do país”, afirma Ícaro.

Segundo ele, o número de funcionários da estatal está cada vez mais reduzido, causando sobrecarga nos trabalhadores e trabalhadoras, que não darão conta de todo o serviço se não houver reposição dos funcionários que são desligados.

De 2016, quando a atual direção da Eletrobras assumiu o comando, até agora, já foram mais de 10 mil demissões. O sistema Eletrobras, que tinha cerca de 26 mil funcionários, passou a ter um pouco mais de 15 mil trabalhadores. Somente em 2018, foram lançados dois planos de demissão.

“Com as demissões, os trabalhadores estão fazendo cada vez mais jornadas exaustivas e viagens longas. Tem casos de trabalhadores que chegam a passar um mês longe de suas casas”, conta Ícaro, que também é dirigente do Sindicato dos Urbanitários no Distrito Federal (STIU-DF).

“Ficar um mês longe de casa, viajando, pra quem trabalha no ‘campo’, sob sol e chuva, num trabalho árduo de manutenção e operação, causa stress, cansaço. É uma situação preocupante”, lamenta o dirigente.

Ele explica que, enquanto a quantidade de funcionários diminui a cada plano de demissão, a capacidade de geração de energia pela Eletrobras não para de crescer, o que necessariamente aumenta a carga horária dos trabalhadores.

Ícaro cita como exemplo a falta de contratação de funcionários para a usina de Belo Monte e Eletronorte, que tem capacidade de operação de 11.233 mil megawatts e 9 mil megawatts, respectivamente.

“Embora Belo Monte seja ‘privada’, a Eletrobras detém 49% das suas ações, e é a responsável, via Eletronorte, pela construção, manutenção e operação da usina. E a Eletrobras não contratou um funcionário sequer a mais para cuidar das duas”, denuncia.

“Em 2016, a Eletronorte tinha 3.500 funcionários, e hoje somos 3.150. O mesmo número de trabalhadores que antes cuidava de uma usina, agora é responsável pela operação e manutenção de duas, com o dobro de capacidade de megawatts”, diz Ícaro.

A capacidade de geração de energia da Eletrobras cresceu, aumentou a carga de trabalho e diminuiu o número de funcionários. Neste cenário, um apagão energético pode acontecer

– Ícaro Chaves

O dirigente questiona ainda o anúncio de que o Programa de Demissão Consensual seja apenas para o pessoal administrativo, como afirmou o presidente da estatal. Segundo Ícaro, não é a primeira vez que Wilson Ferreira Jr. faz este tipo de proposta, e o que se vê depois é a saída do pessoal operacional.

“No governo Dilma, teve-se o cuidado de planejar a saída dos aposentados e dos que já estavam em vias de se aposentar. Além disso, não se deixava perder o conhecimento técnico dos funcionários mais antigos. Hoje qualquer um pode sair. Essa conversa de sair somente o corpo administrativo foi a mesma de antes do governo Temer”, contesta o dirigente do STIU-DF. (fonte: CUT)

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