Relatório revela que os últimos sete anos representam a pior seca da história do Sudeste e a maior no século no semiárido

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O céu não nos protege mais. A mesma anomalia no clima que marcou a grave crise hídrica de 2014-2015 no Sudeste está de volta. Desde o fim de dezembro, um padrão de chuvas abaixo e temperaturas acima da média se estabeleceu na região e em partes do Centro-Oeste e do Nordeste, segundo análise de cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). No Rio, a situação é pior do que em São Paulo.

A anomalia deverá persistir nas próximas três semanas e, caso se prolongue por mais tempo, poderá agravar a situação dos reservatórios do Sudeste. Embora tenham ficado em 2018 em situação melhor do que em 2017, os reservatórios nunca se recuperaram completamente da seca histórica de 2014, que afetou o abastecimento de água, a geração de energia e a produção agropecuária. São Paulo teve uma crise de abastecimento sem precedentes.

Um estudo nacional sobre secas recém-lançado pelo Cemaden revela que nos últimos sete anos choveu menos em todo o Brasil, à exceção da Região Sul. O período foi marcado pela maior seca em 100 anos no Semiárido e pela pior seca da história recente do Sudeste.

Satélites e modelos meteorológicos mostram que alguma coisa está fora de ordem. Mas não há ainda explicação para o fenômeno. O El Niño, que costuma levar a culpa de todas as maldades do clima, desta vez não está bem configurado e por si só não explica as anomalias, diz o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Cemaden.

Fato é que a área de alta pressão atmosférica que costuma permanecer no Atlântico junto ao Nordeste e leva secura ao Semiárido se deslocou em direção ao sul e estendeu sua influência Brasil adentro. Segundo Seluchi, essa área começou a se formar no fim dezembro e entrou em janeiro com força.

A alta pressão é uma exterminadora de nuvens de chuva e um aquecedor do ar. Ela inibe a chuva e, assim, faz a temperatura disparar. Faz isso ao secar a atmosfera e empurrar para baixo o ar quente. As nuvens que se formam por convecção devido ao calor do dia são esmagadas e sugadas. O resultado é a formação de uma estufa, um calor literalmente opressivo.

O sistema de alta pressão também bloqueia a entrada de frentes frias. Isso não significa que não chova. Quando algum sistema de tempestade consegue sobreviver à alta pressão, gera chuvas curtas, localizadas, mas que podem ser extremamente violentas, destaca Seluchi.

É o caso das que têm afetado o estado de São Paulo e que na última terça-feira (22/1) deixaram sem luz até mesmo o Centro de Pesquisa e Previsão do Tempo do Inpe (CPTEC), em Cachoeira Paulista.

Seluchi explica que o município do Rio está em situação pior do que a cidade de São Paulo porque fica mais ao norte e ao leste, mais próximo do sistema de alta pressão. Também se situa no nível do mar, enquanto a capital paulista está a cerca de 700 metros de altitude.

— Como o Rio ainda tem muito cimento, asfalto e prédios está na pior situação e sofre com mais intensidade os efeitos da alta pressão — diz o meteorologista.

De acordo com ele, a partir de sexta-feira (25/1) o sistema de alta pressão perde um pouco a força e pode chover. Mas é um enfraquecimento temporário. E não está descartado o risco de temporais violentos e rápidos, do tipo que inunda ruas, mas não repõe a umidade perdida do solo nem a recarga dos rios.

O mesmo padrão climático que castiga o Brasil também se repete neste momento na Austrália, onde a única chuva em alguns lugares é a de morcegos, mortos pelo calor sem trégua. Outros dois sistemas estão ativos no Índico e no Pacífico. É um padrão que trava a circulação atmosférica. E é difícil saber agora por quanto tempo vai perdurar e que mudança na dinâmica entre oceanos e atmosfera é de fato a causa, observa.

A situação do estado do Rio é preocupante, afirma Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas, e integrante do grupo de especialistas em desertificação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU.

Barbosa diz que um modelo de previsão britânico, do Hadley Centre, um dos maiores centros de climatologia do mundo, indica que a tendência para fevereiro, março e abril no Sudeste é de continuidade da escassez de chuva e temperaturas muito elevadas.

— Tudo indica que este será um ano atípico e crítico para a disponibilidade de água — salienta.

E nem adianta buscar refúgio nas cachoeiras cariocas. Estão por um fio, minguam à medida que a temperatura sobe, pois a água evapora com o calor e não há chuva suficiente para recarregá-las. (fonte: O Globo)

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