O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, disse nesta terça-feira, 29 de janeiro, em São Paulo, que sua meta pessoal mais importante é mudar a cultura organizacional da maior empresa de energia elétrica do país, “para que as pessoas se deem valor e sejam reconhecidas pela sua contribuição”. Em evento promovido pelo banco Credit Suisse, Ferreira criticou o corporativismo que existia na Eletrobras e disse que espera poder dar mais chance para “pessoas jovens, brilhantes e capazes”.

A Eletrobras possui 14 mil empregados, mas já teve 26 mil antes da chegada de Ferreira. Um novo plano de demissão voluntário está em curso, com a expectativa de adesão de mais 2 mil funcionários. “O target da companhia é chegar em 12 mil empregados”, disse o executivo, destacando que essa redução só foi possível com a introdução de novas tecnologias e processos de gestão, como a implantação do Centro de Serviços Compartilhados.

CAPITALIZAÇÃO

Ferreira voltou defender o processo de privatização da Eletrobras, que aconteceria por meio da diluição da participação do Governo Federal na companhia. Apesar da mudança de governo, ele acredita que esse processo acontecerá conforme proposta apresentada ainda no Governo de Michel Temer. “Toda semana a gente se reúne para tratar desse tema, há um entendimento”, disse o executivo, se referindo as reuniões feitas com o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Para atrair o interesse de mercado em um eventual follow on, a estratégia é propor uma mudança no modelo de venda da energia das hidrelétricas que tiveram suas concessões renovadas no modelo da Medida Provisória 579/12, processo conhecido como descotização. A expectativa é arrecadar R$ 12 bilhões.

Segundo Ferreira, a capitalização da Eletrobras está logo após a solução para o GSF na lista de prioridades do Governo. “Na solução para o tema do risco hidrológico, o ministro vai olhar para as duas coisas [GSF e descotização]“. O disputa judicial envolvendo o pagamento do risco hidrológico se arrasta desde 2015 e impedindo a liquidação de cerca de R$ 7 bilhões na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), prejudicando o funcionamento normal do mercado de energia no Brasil.

ANGRA 3

O presidente da Eletrobras também voltou a defender a conclusão da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, cujas obras estão paralisadas desde 2015 quando a Polícia Federal, no âmbito da Operação Lava Jato, apontou evidências de corrupção e formação de cartel na contratação de empreiteiras responsáveis pela construção do empreendimento.

O plano é realizar no segundo semestre deste ano uma concorrência internacional para contratar um parceiro privado que ajude na conclusão da obra. “Um parceiro não é somente uma questão financeira, mas alguém com conhecimento tecnológico e de gestão… para que essa obra seja concluída acima de qualquer suspeita.”

A entrada do sócio poderia se dar de três formas: diluindo a participação da Eletrobras mas mantendo o controle de Angra; montando uma sociedade de propósito específico, com a Eletrobras colocando mais recursos para manter a posição acionária de 51% do capital social; ou fazer uma contratação de um Epecista em modelo turnkey (chave na mão), dando as receitas da usina como garantia.

“A usina está preservada para a entrada de um investidor, tão logo a gente tenha um sócio. Tivemos a oportunidade de receber cinco grandes players globais da área nuclear, todos eles têm interesse. Eles sabem que a energia nuclear vai continuar avançando no mundo”, disse Ferreira. A expectativa é que a obra fique pronta 55 meses após a conclusão da concorrência internacional.

INVESTIMENTOS

Ferreira também falou da situação financeira da companhia. O índice de alavancagem está em 3,3x a relação dívida liquida sobre Ebtida, mas a meta é chegar abaixo de 3x. O executivo disse que a empresa precisa voltar a participar da expansão da matriz elétrica, principalmente investindo em energias renováveis, mas que para isso precisa concluir as obras que estão em andamento.

Além das hidrelétricas de Sinop e Belo Monte, há ainda um conjunto de eólicas no Nordeste e o fechamento de ciclo da termelétrica Santa Cruz que precisam ser finalizados. “O importante é terminar… porque a empresa passa a ter resultado disso, ao invés de sempre estar atrás de capex, vai ter recursos de opex”, disse.

Ele ainda informou que está finalizando a contratação de uma consultoria para auxiliar a diretoria a planejar o próximo ciclo de investimentos da Eletrobras. Para tanto, disse ele, sucesso da capitalização pretendida é imprescindível para retomar a capacidade de investimento da companhia.

Outra frente da Eletrobras para melhorar a capacidade financeira da empresa está na busca por trocar dívidas caras por outras com custos mais baratos. Também está no plano da empresa vender sua participação em aproximadamente 50 Sociedades de Propósito Específico, além da extinção de outras SPES que “não têm mais razão para ficaram abertas”.

Fonte: Wagner Freire, Agência Canal Energia, de São Paulo