Sinergia CUT cobra providências para garantir segurança na barragem e manutenção no reservatório da Usina de Salto Grande
Depois das tragédias anunciadas cometidas pela negligência da Vale do Rio Doce que feriu de morte a população de Mariana e de Brumadinho, em Minas Gerais, a Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou novo relatório sobre as condições de segurança das barragens brasileiras. No último relatório, divulgado em 19 de janeiro passado, as informações são preocupantes também para a população da Região Metropolitana de Campinas, mais especialmente para três cidades paulistas.
Tudo porque, dentre as 45 barragens consideradas de alto risco, em um universo de 24 mil, a que mais inspira cuidados é a de Americana, construída dentro da área urbana e inaugurada há cerca de 70 anos. Classificada como de risco A, exatamente pela possibilidade de atingir a população em caso de rompimento, a barragem de Americana varreria do mapa também as cidades de Limeira e Piracicaba diante de qualquer emergência e eventual rompimento.
Já das 900 hidrelétricas fiscalizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Usina de Salto Grande, administrada pela CPFL Renováveis, geradora da chinesa State Grid, também foi classificada como de alto risco, com estruturas mal planejadas e sem manutenção. Salto Grande é uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica) com três comportas que regulam um volume armazenado de 107 milhões de litros. O paredão de concreto tem 22 metros de altura.
Diante da constatação do risco que pegou de surpresa as populações envolvidas, várias reportagens veiculadas pela imprensa constataram o estado de abandono e de falta de manutenção da usina, inclusive com marcas no concreto que evidenciam vazamentos decorrentes de pequenas trincas, mato cobrindo a barragem e aguapés tomando conta do rio Atibaia.
CPFL nega gravidade
Em uma fiscalização realizada em 2016, a Aneel já havia constatado que uma das comportas não estava funcionando de maneira adequada, que havia risco nas estruturas e que exigiu reparos. Atualmente a agência afirma que mantém total vigilância e diz que não há mais riscos.
Já a CPFL Renováveis afirma que reforçou os investimentos necessários, nega o “alto risco” e informa que aguarda a publicação de reclassificação. Para justificar o abandono da usina, diz que o monitoramento e a operação são remotos 24 horas por dia. E joga a responsabilidade da proliferação de aguapés para a baixa qualidade da água do rio.
População reclama de abandono
Enquanto isso, a população de Americana, estimada em 230 mil pessoas, perdeu importante fonte de receitas vindas do turismo que atraía visitantes para a Praia dos Namorados, mas que acabou desaparecendo pela degradação local e pela poluição dos aguapés.
Outra preocupação é que, além do mau cheiro, os aguapés provocam ainda a proliferação do carrapato estrela, que transmite febre maculosa, doença que também pode matar. Comerciantes da cidade afirmam acumular prejuízo de cerca de 70% nas vendas e vários trabalhadores que viviam do turismo ficaram sem renda e sem emprego.
Sinergia CUT exige segurança
Jornalistas apuraram também que a usina fica fechada e sem ninguém de plantão para acionar qualquer plano de emergência diante de problema mais grave. Em matéria veiculada pelo Jornal da Band, no último dia 7, o repórter Fábio Panunzio encontrou apenas um vigilante, encarregado de evitar furto de material.
Para a direção do Sinergia CUT, o abandono e a insegurança da usina são resultado da privatização e colocam em risco trabalhadores e população. “A venda das empresas de energia resultou na precarização das condições de trabalho e na terceirização de atividades fundamentais. Nesses tempos pós-privatização, equipes locais foram desmontadas, inclusive as de profissionais especializados para trabalhar diariamente com o piezômetro, instrumento que mede a vibração e o deslocamento das barragens de concreto”, afirmam os sindicalistas.
Para debater a situação de insegurança de trabalhadores e da população, o Sindicato participa de audiência pública no próximo dia 25, juntamente com o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), na Assembleia Legislativa de SP.
Fonte: Liíian Parise – Ascom Sinergia-CUT