Debater e buscar alternativas para promover o combate ao Racismo, o preconceito às pessoas com deficiência e com a orientação LGBT, esta é a proposta do encontro que está sendo promovido pela FNU e CNU, no Rio de Janeiro. O evento que começou na terça-feira, dia 07 de novembro, e termina amanhã, dia 08 de novembro, está reunindo urbanitários e convidados de vários estados.
O Presidente da FNU, Pedro Blois, em sua fala de abertura destacou a importância da realização desta atividade. “Desde 2013 a FNU não realizava uma agenda que contemplasse as questões de raça, LBGT, enfim, toda essa temática que muitas vezes são esquecidas pelos sindicatos em um momento de crise econômica. Nossa direção teve a coragem de não se negar a discutir e promover esse encontro nacional. E essa postura da FNU, inclusive, tem sido reconhecida em âmbito internacional, através da ISP, que fez vários elogios na reunião realizada em Genebra sobre nossa agenda de debates sobre a mulher, a questão racial, os LGBTS. Essa decisão é permanente, por isso, saudamos a todos e a todas e assumimos o compromisso de continuar avançando nessas discussões com a realização de novos encontros, bem como, ampliar esse debate com novas parcerias ”, afirmou.
A Secretaria de Combate ao Racismo da CNU, Ana Lúcia Cruz, salientou os desafios que estes temas trazem para o movimento sindical. “É importante resgatar esse debate sobre o racismo, sobre as pessoas com deficiência e os LGBTS. Por se tratarem de temas que muitas vezes são deixados de lado pelo movimento sindical. A FNU e a CNU têm compromisso de com a luta destes segmentos, portanto, dar continuidade a essas discussões é fundamental. Quantos relatos recebemos de racismo, de preconceito aos portadores de deficiência e LGBT temos conhecimento? E esse quadro somente vai mudar com ações permanentes, e o movimento sindical tem o dever de fazer essa contribuição”, alertou.
O palestrante da abertura foi o professor e diretor do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, Edson Garcia, que abordou a questão do racismo no setor educacional. Para ele os governos não se preocupam com os trabalhadores e as trabalhadoras negras que atuam na educação. Não se leva segundo ele em consideração características especiais, na área da saúde, no tratamento a estes profissionais. Segundo Edson no Rio Grande do Sul existe uma conjuntura adversa, com governos conservadores, que tentam impedir uma série de avanços para a população negra e seus trabalhadores, por isso é preciso fazer a resistência, valorizando nossas raízes e bandeiras de lutas.
Um tema ainda pouco foi explorado nas discussões sobre raça é a questão da saúde. Foi com esse propósito que foi realizada a palestra da Assistente Social e pesquisadora da UNICAMP, Aparecida do Carmo Miranda, que abordou vários problemas enfrentados pela população negra quando acessa a rede de saúde. “ O homem e a mulher negra quando acessam, por exemplo, o SUS muitas vezes sofrem o chamado racismo institucional, isso se reflete no seu tratamento. Não lhe é informado com detalhes seu caso clinico. Um exemplo é a chamada anemia falciforme, que é característica da raça negra, mas muitos nunca tomaram conhecimento ou fizeram uma testagem. Ou quando lhe prescrevem remédios que não fazem o efeito desejado para hipertensão ou diabetes. Enfim, é preciso que os sindicatos e os movimentos sociais se mobilizem, mostrando que é preciso respeitar os direitos da população negra no sistema de saúde”, falou.
A parte da tarde foi reservada para o debate sobre a conjuntura política e seus reflexos para a população negra. O Assessor Jurídico do Senado, Gabriel Sampaio, alertou que o golpe em curso terá impacto direto nas políticas sociais que beneficiaram a população negra durante os 13 anos do projeto popular e democrático, acentuando ainda mais a desigualdade social no país. Portanto, é fundamental que a classe trabalhadora e os movimentos sociais intensifiquem sua agenda de lutas, até que a democracia seja restaurada no país.
A secretaria de Nacional Adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Fernandes, fechou o dia do encontro nacional abordando a questão do racismo estrutural, institucional e econômico. Para ela o sistema capitalista tem na sua lógica o racismo, e ele através dos seus meios de comunicação perpetua na sociedade esse discurso de forma subliminar. “As pessoas muitas vezes não se dão conta, mas estão reproduzindo no seu cotidiano o racismo e o machismo veiculado na grande mídia. Mesmo nas entidades sindicais existe o preconceito. Basta verificar que os negros e as mulheres têm poucas chances de ocupar um cargo com mais relevância em sindicatos. É preciso rever conceitos e buscar muita informação para mudar esse quadro”, disse ela.
Após todas as mesas foram abertas inscrições para perguntas aos palestrantes, fazendo que o encontro fosse bastante dinâmico.
Quarta-feira, dia 08, o encontro nacional continua com mais convidados, abordando a questão das pessoas portadoras com deficiência e o grupo LGBT.