Nesse momento grave pelo qual passa a humanidade, e em especial o Brasil, há duas grandes preocupações. A primeira é quanto ao esforço de todos: cidadãos, empresas e governos no combate à pandemia da COVID-19, claramente a mais urgente, mas há uma segunda preocupação rondando todas as lideranças mundiais: dado os profundos impactos recessivos da pandemia em praticamente todos os países, como fazer para reativar a economia e evitar que as pessoas sofram ainda mais com a crise, com a recessão e o desemprego? Essa preocupação é ainda maior com relação à já combalida economia brasileira.
Com relação ao combate à pandemia confiamos em nossos cientistas e nos nossos profissionais da saúde e esperamos que as autoridades façam o que for preciso para preservar vidas, a despeito dos inevitáveis prejuízos econômicos. Já com relação ao enfrentamento da recessão, que se mostra inevitável, é preciso cuidar para que os setores mais vulneráveis da sociedade não fiquem completamente sem renda, mas é necessário também preparar o país para o dia seguinte dessa crise sanitária, que certamente superaremos.
Os números do PIB de 2019 mostram que além de um crescimento pífio, há um baixíssimo nível de investimento na economia brasileira, de menos de 15% do PIB no último trimestre de 2018, e sem investimentos não há crescimento sustentado. A realidade tratou de mostrar que de nada adiantou a reforma trabalhista, a PEC do teto de gastos, a reforma da previdência e outras mutilações dos direitos dos mais pobres. Nada disso serviu para mobilizar o investimento privado, nem interno e muito menos externo, afinal, o que leva a iniciativa privada investir é, como sempre foi, a perspectiva de demanda. Como esperar aumento de demanda de uma população cada vez mais empobrecida e com empregos cada vez mais precários?
O ministro da economia, Paulo Guedes, criou a estranha tese de que a economia seria como um avião com duas turbinas, uma representaria o setor público e a outra o setor privado. Segundo essa original teoria, seria preciso desligar a turbina do setor público para que a outra pudesse acelerar e manter o avião, ou melhor, a economia voando. A realidade, essa destruidora de ilusões, mostrou que o setor privado não se comoveu com o esforço fiscal do país e que o avião está prestes a se espatifar no chão.
No mundo todo, diante da gravíssima realidade que se impõe, formou-se rapidamente um consenso de que somente com investimento público será possível alguma recuperação econômica. Na Europa já se discute a reestatização de empresas e, no Brasil, o próprio presidente da Câmara dos Deputados, o liberal Rodrigo Maia do DEM/RJ deu a seguinte declaração: “O setor privado sozinho não vai resolver os problemas. Então acho que a grande mensagem do PIB que saiu hoje é exatamente que a participação do Estado também será sempre importante para que o Brasil possa crescer e se desenvolver”.
Diante disso a Eletrobras tem um papel importantíssimo a cumprir. A maior empresa de energia elétrica da América Latina sempre correspondeu aos desafios colocados. Nasceu nos anos de 1960 com a missão de construir um sistema elétrico para o Brasil; nos anos de 1970, diante do choque do petróleo e da necessidade de prover energia para um país que crescia fortemente, foi responsável pela construção de algumas das maiores hidrelétricas do mundo; nos anos de 1980 foi usada até para conter a inflação e nos anos 2000, após a traumática experiência do apagão, foi responsável por recuperar os investimentos no setor elétrico, garantir a segurança energética e por praticamente universalizar o acesso à energia elétrica no país.
A Eletrobras está hoje, do ponto de vista da sua saúde financeira, num dos melhores momentos de sua história. Após passar por um período de extrema dificuldade causadas pela confluência de três fatores bastante desfavoráveis, que foram: a MP 579 em 2012, a severa crise hídrica de 2014 a 2016 e os crescentes prejuízos causados pelas distribuidoras do Norte e Nordeste que faziam parte da companhia, a Eletrobras conseguiu se recuperar. A remuneração das usinas no sistema de cotas foi readequada, a repactuação do risco hidrológico deu mais segurança para a empresa enfrentar crises hídricas e a privatização das distribuidoras, embora esteja trazendo enormes transtornos para aquelas populações, do ponto de vista econômico foi bastante benéfica para a Companhia.
Em 2018 a Eletrobras já havia apresentado lucro recorde de R$ 13,3 bilhões (lucro esse impactado por receitas não recorrentes, é verdade) e em 2019 a empresa apresentou um lucro de R$ 10,7 bilhões, lucro esse advindo basicamente das atividades operacionais da empresa. Além disso há que se destacar que a relação entre a dívida líquida e o EBITDA (lucro antes de juros, impostos e dividendos) é de incrível 1,6 vezes, ou seja, a empresa está muito menos alavancada que as suas principais concorrentes privadas. É bom ressaltar que esses resultados bastante positivos foram conquistados vendendo grande parte da energia no sistema de cotas, com preço muito abaixo do mercado e em um ambiente de estagnação econômica no país.
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