O que poderia juntar hoje 16 homens e uma mulher que já ocuparam as cadeiras mais poderosas — e espinhosas — da Esplanada dos Ministérios, as de comandantes da Economia? Ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central como Fernando Henrique Cardoso, Rubens Ricupero, Luiz Carlos Bresser Pereira, Nelson Barbosa, Zélia Cardoso de Mello e Armínio Fraga se uniram para pedir o engajamento do governo brasileiro no esforço global por uma economia de baixo carbono.
Na carta aberta “Uma convergência necessária: por uma economia de baixo carbono”, divulgada no mês passado, os signatários afirmam que a pandemia de covid-19 mostrou o quanto é necessário, num mundo de economias globalmente interligadas, tomar medidas para que choques sistêmicos sejam suportados com resiliência. Esse aprendizado da crise, que continua levando vidas e legando um crescente desastre econômico, pode ser aplicado, “com grande propriedade”, afirmam, a um risco ainda maior para o planeta, as mudanças climáticas.
Para os ex-dirigentes, “a seriedade dos riscos físicos das mudanças climáticas e a complexidade dos riscos de transição demandam que os governos, o setor privado, a sociedade civil e a comunidade internacional se antecipem aos previsíveis impactos negativos de longo prazo, construindo desde já uma economia de baixo carbono”.
Uma das principais vertentes dessa construção é o setor de energia. O Brasil ainda é um dos países com a matriz energética mais renovável e limpa do mundo, mas, infelizmente, a participação dos combustíveis fósseis vem ganhando mais espaço na geração de energia elétrica. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, em 2009, quase 85% da energia elétrica foi produzida por meio de hidroelétricas, e 16% por termoelétricas. Quase uma década depois, em 2018, a produção hidroelétrica caía para 65% e a termoelétrica alcançava 27%, a maioria movida a combustíveis fósseis. A previsão da própria EPE é que essa tendência permaneça.
Há notícias positivas. A energia eólica cresce, e já é responsável por 10% da energia elétrica produzida
no país. No entanto, a energia solar, apesar do enorme potencial, não chega a 2% de nossa matriz. São fontes cada vez mais competitivas, mas, por serem intermitentes, demandam também fontes de energia firmes, que dêem confiabilidade ao sistema. Esse “seguro”, historicamente desempenhado pelas hidrelétricas, está sendo substituído por combustíveis fósseis, especialmente pelo gás natural.
As residências, o comércio, a indústria e mesmo os transportes se tornarão cada vez mais dependentes da energia elétrica, e nosso modo de produção determinará, em grande medida, se conseguiremos ou não fazer a transição para a economia de baixo carbono. Nesse processo de mudança, a Eletrobras terá um papel destacado.
A empresa produz 30% da energia elétrica do Brasil, a maior parte desse volume em suas 47 hidrelétricas, que têm em seus reservatórios 52% da água armazenada do país. Isso significa que a Eletrobras é responsável pela administração da maior parte da “bateria” do sistema elétrico brasileiro.
Graças a esse imenso potencial, nem todo explorado ainda, o Brasil também pode construir centenas de usinas reversíveis. Ou seja, o país pode se tornar a primeira grande economia do mundo a ter mais de 90% de sua energia elétrica gerada exclusivamente por fontes com baixa emissão de carbono. Essa é uma vantagem que poucas nações têm e podem contar. Diante dos desafios impostos pela defesa do meio ambiente, não pode ser colocada em risco.
Como mostram os ex-ministros e ex- presidentes do Banco Central, para alcançar a economia de baixo carbono, “investimentos públicos e privados devem apoiar a transição da economia brasileira para um padrão de emissões líquidas de carbono zero”. Num momento de incerteza global, fica evidente que apenas o investimento público terá capacidade de conduzir o país em sintonia com as exigências dos novos tempos e realizar a transição energética de forma segura. A Eletrobras, como empresa pública, tem todas as condições técnicas e econômicas de ser parte fundamental desse esforço inadiável e colocar o Brasil na liderança desse movimento, rumo a uma economia de baixo carbono e a um futuro sustentável para as novas gerações.
Fonte: Congresso em Foco
*Danilo Cabral é Deputado Federal pelo PSB de Pernambuco