Em janeiro de 2021, quando o sistema de saúde em Manaus entrou em colapso e pacientes de Covid-19 agonizavam e morriam asfixiadas por falta de oxigênio, a solidariedade dos vizinhos venezuelanos foi essencial para aliviar o sofrimento dos brasileiros. Foi deles a primeira iniciativa de enviar oxigênio para a capital do Amazonas para salvar vidas, enquanto o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) negligenciava a crise. O então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, soube dias antes que o estoque estava acabando e nada fez. O governo brasileiro nunca agradeceu a ajuda, mas a classe trabalhadora e o povo, sim.
E agora é a hora de retribuir a solidariedade. O país vizinho enfrenta dificuldades para produzir e transportar o oxigênio. Faltam peças e manutenção de máquinas, usinas e caminhões utilizados para esta finalidade.
Por ajudar os companheiros venezuelanos, a CUT, que sempre teve uma relação solidária com os sindicatos daquele país, lançou uma campanha de arrecadação tanto de peças quanto de recursos.
“A solidariedade entre os sindicatos brasileiros e venezuelanos sempre existiu e agora se mostra mais do que necessária. É uma questão de salvar vidas”, diz o Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa.
O dirigente explica que, por causa das sanções econômicas impostas por potências econômicas como os Estados Unidos, a Venezuela não consegue importar muitos desses insumos para manter sua produção.
“É nosso papel fornecer essas peças de reposição ou ajudar financeiramente para que eles possam se manter, possam continuar com esse trabalho sério que salva vidas”, reforça Lisboa.
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, convocou todos os companheiros e as companheiras de entidades filiadas a Central a se engajarem na campanha.
“Quero convocar os nossos sindicatos de base, nossas federações, confederações, estaduais a se engajarem na campanha de solidariedade ao povo da Venezuela. Vamos criar as condições para que continuem a produzir o oxigênio e garantindo transporte para que possam salvar vidas do povo trabalhador da Venezuela e a solidariedade que tiveram com o povo brasileiro”, disse o presidente da CUT.
A fala de Sérgio Nobre faz parte de um vídeo que fala que os problemas da classe trabalhadora são parecidos em todo o mundo e, portanto, a luta tem de ser globalizada, lembra do apoio que os venezuelanos deram aos brasileiros e conta o que está acontecendo hoje na Venezuela.
Para ajudar
De acordo com Antônio Lisboa, entidades sindicais da Venezuela se mobilizaram e fizeram um levantamento dos materiais necessários e enviaram aos sindicatos brasileiros. Outra – e importante – forma de contribuição é financeira. E todos podem ajudar.
Via PIX:
A chave é o e-mail campanhas@cut.org.br
Via depósito ou transferência bancária:
Banco do Brasil
Conta corrente: 8024-1 / Agência 3344-8
CNPJ: 60.563.731/0001-77
Descaso do governo brasileiro
A Venezuela enviou 130 mil litros de oxigênio ao Brasil, transportados por oito caminhões. Também reuniu um grupo de 107 médicos venezuelanos e brasileiros, formados pela Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, para auxiliar na linha de frente do combate à pandemia na região amazônica. O assunto inclusive, foi pauta da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, a CPI da Pandemia, que investiga as responsabilidades sobre a tragédia que se abate no país.
Pazuello foi questionado sobre as razões de não ter agido em conjunto com a Venezuela ao menos enviando transporte aéreo para traz o oxigênio para o país. Já o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, confirmou na CPI que sequer agradeceu o país vizinho.
“O que aconteceu demonstra claramente quem está ao lado de trabalhador. São os próprios trabalhadores que se unem para ajudar, para salvar vidas. E foi o que a Venezuela fez, ao contrário do governo brasileiro”, diz o secretário de Relações Internacionais da CUT.
Sanções econômicas
A Venezuela enfrenta, desde 2014, bloqueios econômicos capitaneados pelos Estados Unidos, que tentam intervir no regime político de esquerda do país vizinho, governado por Nicolás Maduro, classificando-o como “ameaça inusual para segurança interna dos Estados Unidos”.
Ao todo são mais de 150 sanções, sendo 62 duas EUA, nove da União Europeia, cindo do Canadá e mais cindo do Reino Unido.
De acordo com reportagem do Brasil de Fato (BdF), um levantamento da ONG Sures, estima que metade do planeta sofra com sanções econômicas. No caso da Venezuela, esses bloqueios consistem em o país ficar impedido de realizar transações internacionais com o dólar estadunidense. E isso aumenta os gastos cambiários do país.
Outro impacto, diz o BdF, justamente causado pela falta de peças, se dá na produção e petróleo, já que o país sul americano depende de tecnologia importada (peças e componentes) para manter sua produção.
Por conta da dificuldade de compra de peças para a manutenção da infraestrutura e de químicos usados no refino do petróleo, a indústria petrolífera, carro-chefe do país, diminuiu sua produção em aproximadamente 60% desde 2014.
Fonte: Site da CUT- Edição- Marize Muniz