Sindicalistas denunciam assédio moral na Cemig
A reunião da CPI da Cemig realizada na quinta-feira (30/9/21) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi marcada por denúncias de assédio moral de gestores da empresa contra seus funcionários. Segundo representantes sindicais, o ambiente de trabalho atualmente é marcado por medo e pavor.
“Não conheço clima pior do que o deste momento. Os trabalhadores têm medo de se comunicar com sua gerência, do dia de amanhã, de demissão”, afirmou o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Energética (Sindieletro), Emerson Andrada Leite.
Ele relatou que vem recebendo grande quantidade de denúncias de assédio moral praticado pelas gerências, que estariam ameaçando trabalhadores que participam de assembleias sindicais. Na avaliação do sindicalista, a pressão psicológica pode levar a acidentes de trabalho, especialmente nas atividades de alto risco, como a manutenção da rede elétrica.
Para o presidente do Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas (Sindsul), João Wayne de Oliveira Abreu, o momento é de “pavor total”. Segundo ele, a situação se agravou no começo de setembro, quando a Cemig teria instruído os gerentes a avaliarem positivamente apenas 20% dos funcionários, deixando a maior parte dos trabalhadores sem avaliação de desempenho satisfatória e, portanto, sujeitos à demissão.
No entendimento do sindicalista, a prática configura assédio moral coletivo. “As pessoas estão com medo da atual gestão. Isso nunca aconteceu na Cemig”, afirmou. João Wayne ainda criticou a nomeação de Thadeu Carneiro da Silva para a Diretoria de Geração e Transmissão, em julho deste ano. Segundo ele, as denúncias de assédio praticado pelo diretor são diárias.
Investigação da Kroll é alvo de críticas
O presidente do Sindsul também foi questionado pelos deputados sobre a investigação que vem sendo conduzida pela Kroll, empresa contratada sem licitação para apurar denúncias de irregularidades na área de suprimentos. João Wayne considerou absurdo o entendimento da Cemig de que os dados arquivados nos computadores pertencem à empresa.
Coação de trabalhadores é prática comum hoje na Cemig
“O trabalho intelectual só passa a ser de propriedade da Cemig depois que é finalizado. As pessoas estão com medo de escrever um e-mail. A vida no trabalho virou um Big Brother”, disse, referindo-se ao temor geral de punições e demissões.
Segundo o coordenador geral do Sindieletro, a proposta de trabalho da Kroll abrange a investigação até de parentes de segundo grau de funcionários da Cemig. De acordo com ele, os trabalhadores evitam procurar o sindicato para denunciar abusos porque têm medo de estarem sendo vigiados pela empresa.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) lembrou que funcionários da Kroll entraram na sede da Cemig fora do horário comercial e tiveram acesso aos computadores da empresa em um momento em que o contrato para a prestação do serviço de investigação sequer tinha sido assinado. “A Kroll teve acesso a dados dos trabalhadores e de 8 milhões de consumidores da Cemig”, criticou.
Falta de segurança pode provocar acidentes
A falta de segurança no trabalho também foi denunciada pelo coordenador geral do Sindieletro. Respondendo a questionamentos do vice-presidente da CPI, deputado Professor Cleiton (PSB), Emerson Andrada Leite esclareceu que os contratos da Cemig com as empreiteiras para manutenção da rede elétrica estabelecem metas de produtividade que podem provocar acidentes graves.
Segundo o sindicalista, as empreiteiras também estabelecem com seus funcionários metas mensais para execução de serviços. Para receber um adicional sobre salários que giram em torno de R$ 1.500,00, os trabalhadores chegam a fazer jornadas de 10 a 12 horas por dia. “A condição de cansaço é extrema e a montagem da estrutura de segurança demanda tempo. Quando o trabalhador não é vigiado por câmeras, começa a negligenciar as regras de segurança”, afirmou.
Atrasos e lentidão – O Sindieletro também denunciou que a Cemig não teria material suficiente para fazer reparos na rede elétrica em um eventual dia atípico na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se uma tempestade atingir vários bairros ao mesmo tempo, os consumidores ficariam sem energia por mais tempo.
O presidente da CPI, deputado Cássio Soares (PSD), lamentou a lentidão da Cemig no atendimento de demandas como aumento de carga. “Isso nos revolta. Temos uma empresa lucrativa, mas falta uma gestão melhor. O cliente paga caro e merece um serviço de qualidade”, afirmou.
As empreiteiras que executam para a Cemig serviços como manutenção, construção e obras enfrentam dificuldades como insegurança contratual e atrasos na aprovação de projetos pela empresa. A informação foi repassada aos deputados pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Instalações Elétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias no Estado (Sindimig), Márcio Danilo Costa.
De acordo com Costa, fornecedores relatam dificuldades devido à rigidez da política de preços praticada pela empresa. A dificuldade na aquisição de materiais tem levado a atrasos em obras, situação que se agravou ainda mais devido à pandemia de Covid-19.
Deputados governistas defendem Cemig
Quem saiu em defesa da Cemig foram os deputados Zé Guilherme (PP) e Zé Reis (Podemos). O deputado Zé Guilherme lembrou que a gestão anterior da Cemig colocou em segundo plano os investimentos em energia e a eficiência operacional para focar na distribuição de dividendos para os acionistas e em investimentos fora de Minas Gerais.
A atual gestão, segundo o parlamentar, inverteu essas prioridades, de modo a aumentar os investimentos em geração, transmissão e distribuição e melhorar a qualidade do serviço prestado pela empresa.
Já o deputado Zé Reis lembrou que a Kroll é reconhecida por seu trabalho de apuração de fraudes e desvio de conduta e que a empresa utiliza as melhores práticas para investigação corporativa, em conformidade com a legislação brasileira e com diretrizes internacionais.
Convocação – Entre os requerimentos aprovados ao final da reunião está uma convocação, como testemunha, de Fernanda Barroso Carneiro, representante legal da Kroll na prestação de serviços contratados pela Cemig. Essa solicitação foi apresentada pela deputada Beatriz Cerqueira e pelos deputados Sávio Souza Cruz (MDB) e Professor Cleiton.
Fonte: Ascom Sindieletro-MG