Funcionários da EBC questionam contrato para produzir notícias sobre Fórum das Corporações da Água
Um chefe da Agência Brasil reclamou da “rebeldia” de repórteres ao diretor de jornalismo da EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Em mensagem obtida pelo site Poder360, na última sexta-feira (23/2), Alberto Coura diz que os funcionários se recusam a cobrir o Fórum das Corporações – autodenominado 8º Fórum Mundial da Água.
No início de fevereiro, o site Poder360 mostrou que a estatal usa seu braço público para vender conteúdo favorável ao próprio governo, por contrato de R$ 1,8 milhão com a ANA (Agência Nacional de Águas). A FNU também publicou a matéria. Leia: Agência Nacional de Águas (ANA) desembolsará R$ 1,8 mi para promover o “Fórum das corporações da água”
Coura, gerente executivo da Agência Brasil, mandou a seguinte mensagem ao grupo “Alerta NBR” no WhatsApp. O texto foi enviado na sexta-feira (23/2) por volta do meio dia.
“Roberta, bom dia. Gostaria de conversar com Lourival, depois do almoço (ou mesmo na segunda), para tratar dos repórteres orientados pelo sindicato a recusar pautas sobre o Fórum Mundial da Água. Alegam que não trabalham em empresa comercial e que não foram contratados para fazer “matérias pagas”. Esta rebeldia ser fortemente logo no início do Fórum. O que deveremos fazer?”.
Logo depois a mensagem teria sido apagada. Eis uma imagem:
Segundo funcionários, ele se refere a Lourival Antonio de Macêdo, diretor de Jornalismo da EBC, e a Roberta Almeida Dante, chefe de gabinete de Lourival. O diretor foi denunciado no começo do mês à Comissão de Ética da Presidência por suposto conflito de interesses na elaboração do PDV (Plano de Demissão Voluntária). Ele e Luiz Antonio Duarte, diretor de Administração, Finanças e Pessoas, teriam criados regras melhores para eles mesmos no plano.
Alberto Coura disse à reportagem que mandou a mensagem por engano, mas minimizou o tema. Afirmou que trata-se de uma discussão interna, sem grande relevância.
“A iniciativa de pedir essa reunião com o Lourival foi minha. Eu quero conversar com eles porque a gente percebe que as pessoas estão se sentindo mal em fazer isso aí”.
“Eu preferiria que a mensagem que eu coloquei aqui… ela acabou indo para o endereço errado. Na verdade, pediram uma orientação da empresa caso isso venha a acontecer. Caso as pessoas venham a questionar. Aí a gente vai encontrar uma alternativa normal, sem problemas”.
O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal rebateu a acusação de Alberto Coura de que a entidade orienta funcionários a recusar pautas. “A Agência Brasil não é lugar de venda de matérias, isso afeta a credibilidade do veículo. Não aceitamos que um gerente faça qualquer retaliação aos jornalistas e acuse o sindicato por defender a legalidade e legitimidade da EBC”, diz Gésio Passos, coordenador geral do sindicato.
Procurada, a EBC afirmou que todos os funcionários “devem seguir a orientação da gestão da casa e cumprir as pautas jornalísticas determinadas pelas respectivas chefias”. A direção diz que o contrato com a ANA é “oportunidade única de a EBC demonstrar sua relevância e competência jornalística”. A estatal não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a “rebeldia” atribuída aos repórteres por Coura. Nem citou a mensagem do gerente executivo da agência. A EBC também não informou se está interferindo indevidamente nas reportagens. (fonte: Poder360)
FAMA 2108 será realizado em contraposição ao Fórum das Corporações
O FAMA 2018 – Fórum Alternativo Mundial da Água será um grande encontro com o objetivo de unificar internacionalmente a luta contra a tentativa das grandes corporações de se apropriarem de reservas e fontes naturais de água e de outros serviços públicos. O FAMA se organiza em contraposição ao Fórum das Corporações – autodenominado 8º Fórum Mundial da Água e será realizado em Brasília (DF), de 17 a 22 de março.
A Federação Nacional dos Urbanitários – FNU -, que apoia e integra a coordenação nacional do FAMA 2018, subscreve o Manifesto do Fórum Alternativo Mundial da Água por entender que “água deve estar a serviço dos povos de forma soberana, com distribuição da riqueza e sob controle social legítimo, popular, democrático, comunitário, isento de conflitos de interesses econômicos, garantindo assim justiça e paz para a humanidade”.
Afinal, água é direito, não mercadoria.