A Central Única dos Trabalhadores (CUT) iniciou um debate sobre a necessidade de as entidades sindicais que foram prejudicadas por intervenções da ditadura militar, recebam uma reparação do Estado Brasileiro através de uma anistia coletiva.
A tese foi defendida pela secretária nacional de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT, Jandyra Uehara, no evento “Anistia Coletiva: pelo reconhecimento de violações e pedido de perdão do Estado Brasileiro para o movimento sindical”, realizado na última terça-feira (23).
Morte de Palhano
O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro se insere entre as entidades sindicais que sofreram intervenção na sua direção durante o regime militar, inclusive com prisão, tortura e até morte de dirigentes, dados como “desaparecidos” pela ditadura, como foi o acaso do bancário e ex-presidente da entidade, Aluísio Palhano, cujos restos mortais só foram encontrados em 2018, a partir de um trabalho de busca da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), realizado em Brasília, com o apoio do Ministério de Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff.
As ossadas de Palhano foram encontradas na vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, na cidade de São Paulo.
Além de Palhano, pelo menos cinco dirigentes do Sindicato do Rio teriam sido cassados de suas funções no primeiro Ato Institucional (AI-1) da ditadura, entre eles, Luíz Viegas da Mota Lima, Olímpio Melo e Humberto Menezes Pinheiro.
Cerca de 100 políticos e lideranças foram cassados na ocasião, como Luiz Carlos Prestes, Leonel Brizola e João Goulart.
O assessor político da CUT, Júlio Turra, disse que as atrocidades cometidas pelos militares em 21 anos de ditadura não podem ficar no esquecimento.
“Os sindicatos foram um dos setores sociais que mais sofreram com a ditadura e também um dos setores que mais contribuiram para que a ditadura militar tivesse um fim. A anistia no Brasil não foi negociada. Não podemos esquecer, e não podemos perdoar”, afirmou.
Retomar a discussão
Para o secretário-geral da CUT, Renato Zulato, a Comissão da Verdade da Central Única dos Trabalhadores deve levar a cabo a Portaria 177, “de modo a retomar o seu papel nas políticas públicas do país, cobrando do Estado aquilo que foi tirado dos trabalhadores após sucessivos golpes”, disse, referindo-se também ao golpe de 2016, que impôs o impeachment da ex-presidenta Dilma, interrompendo o processo dos trabalhos de reparação histórica em prol de pessoas e entidades que sofreram com a ditadura militar, através da atuação da Comissão Nacional da Verdade.
A representante da Comissão Nacional da Verdade Rita Sipahi estava presente e confirmou a argumentação de Zulato de “que este é o momento de colocar energia nos trabalhos de memória e reparação ligados à ditadura militar.”
Fonte: Carlos Vasconcellos /Imprensa SeebRio /Com informações da CUT