Artigo: Lucas Tonaco*
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A Sociolinguística é uma disciplina que transcende a mera análise linguística, uma vez que seu escopo de estudo abrange as implicações sociais da linguagem, tornando-se uma ciência comprometida com a busca pela justiça social. Essa abordagem reconhece que a linguagem desempenha um papel fundamental na estruturação e reprodução das desigualdades sociais, exigindo uma investigação crítica e engajada dessas questões.
Na referida palestra, para Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN), há uma espécie de síntese com relação há vários conceitos William Labov, renomado linguista e pioneiro da Sociolinguística, que contribuiu significativamente para essa concepção da disciplina como uma ciência em prol da justiça social. Em seu trabalho seminal intitulado “Justice as linguistic matter” (1992), Labov argumenta que a variação linguística reflete e perpetua as desigualdades sociais, destacando a importância do estudo sociolinguístico na promoção da igualdade linguística e da justiça social, tal como discorre e dá vários exemplos ao longo da palestra.
Labov enfatiza que as atitudes linguísticas desempenham um papel central na perpetuação das desigualdades sociais. A estigmatização de variedades linguísticas não-padrão ou dialetos de grupos marginalizados pode levar à exclusão social e limitar as oportunidades de educação e emprego para esses grupos. Segundo Labov, é necessário compreender essas atitudes e buscar a valorização e o respeito por todas as formas de falar.Nesse sentido, a Sociolinguística também se dedica ao estudo das políticas linguísticas e às questões de poder relacionadas à linguagem. A distribuição desigual do poder linguístico reflete as estruturas sociais e pode resultar em discriminação e opressão. É por meio da análise das políticas linguísticas que a Sociolinguística busca criar espaços para o reconhecimento e a valorização das línguas minoritárias, promovendo a igualdade de direitos linguísticos. A relação entre a linguagem e a construção de identidades sociais também ocupa um lugar de destaque nos estudos sociolinguísticos. A Sociolinguística investiga como a linguagem é utilizada para marcar e negociar identidades sociais, como gênero, etnia, classe social e grupo social. Compreender esses processos permite à Sociolinguística contribuir para a desconstrução de estereótipos e preconceitos linguísticos, impulsionando a construção de uma sociedade mais inclusiva e justa.
Outros acadêmicos, como Pierre Bourdieu, também contribuíram para a visão da Sociolinguística como uma ciência voltada para a justiça social. Bourdieu enfatiza como a linguagem é um campo de luta simbólica, no qual as relações de poder são negociadas e reproduzidas. Além disso, Nancy Fraser argumenta que a justiça linguística é um componente essencial da justiça social em um sentido mais amplo.
Em resumo, a Sociolinguística ultrapassa os limites da análise linguística convencional, engajando-se na compreensão e enfrentamento das implicações sociais da linguagem. Ao buscar promover a igualdade linguística e a justiça social, essa disciplina destaca a importância da linguagem na reprodução das desigualdades sociais e busca soluções para a valorização da diversidade linguística e o empoderamento de grupos marginalizados. Essa abordagem crítica e transformadora reforça o papel da Sociolinguística como uma ciência que contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Referências:
1. JUSTICE as a linguistic matter. Conferência apresentada por William Labov. [s.l., s.n], 2020. 1 vídeo (1h 06min 33s). Publicado pelo canal da Associação Brasileira de Linguística. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hqrsHmhcrSQ. Acesso em: 23 maio 2020.
2. Labov, William. The social stratification of English in New York city. Cambridge University Press, 2006.
3. Bourdieu, P. (1991). Language and symbolic power. Harvard University Press.
4.Fraser, N. (1997). Justice interruptus: Critical reflections on the “postsocialist” condition. Routledge.
- Labov, W. (1992). Justice as linguistic matter. In P. Eckert & J. R. Rickford (Eds.), Style and sociolinguistic variation (pp. 101-114). Cambridge University Press.
* Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)