Artigo: Lucas Tonaco*
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Primeiro, uma breve conceituação – extralinguísticos referem-se a fatores externos à língua que podem influenciar a variação linguística. Esses fatores podem ser sociais, geográficos, culturais, históricos, psicológicos, entre outros. Eles desempenham um papel importante na motivação e explicação das variações observadas na língua. A variável linguística é um elemento que pode variar entre diferentes formas dentro de uma mesma estrutura linguística. As variantes são as diferentes formas que essa variável pode assumir. A variação linguística pode ocorrer em diferentes níveis da língua, como morfológico, sintático, fonológico, entre outros.

No artigo “Contraction, deletion, and inherent variability of the English copula” de William Labov (1969), o autor discute a variação e a instabilidade do uso da cópula “to be” no inglês. Labov analisa como fatores extralinguísticos, como classe social, idade e contexto social, influenciam a variação no uso da cópula. Ele observa que a variante “to be” é mais frequente em contextos mais formais e em fala cuidadosa, enquanto a forma não-padrão “ain’t” é mais comum em contextos informais e em fala espontânea.No livro “Syntactic structures” de Noam Chomsky (1957), o autor aborda a variação sintática na língua e propõe uma teoria gerativa para explicar a estrutura e as regras da gramática. Chomsky argumenta que a variação sintática pode ser explicada por diferenças na configuração de parâmetros gramaticais inatos aos falantes, e não apenas por fatores extralinguísticos.

J.A. Hawkins em “Efficiency and complexity in grammars” (2004) explora a relação entre a eficiência e a complexidade das gramáticas. Ele argumenta que a variação linguística pode ser motivada por fatores extralinguísticos, como a otimização do processamento cognitivo e a busca pela eficiência na comunicação.Clifford Geertz em “The interpretation of cultures” (1973) discute a relação entre a linguagem e a cultura. Ele destaca que a variação linguística reflete aspectos culturais mais amplos e que a análise da variação linguística é essencial para compreender as dinâmicas culturais de um grupo.

Aplicação no case de ambos os textos:

  • Fenômeno: Variação fonológica.
    • Variável: Pronúncia do /r/ final de palavra.
    • Variantes: [r] e [ʁ].
    • Tipo de variação: Fonológica.
    • Fatores extralinguísticos motivadores: A variação na pronúncia do /r/ final de palavra pode ser influenciada por fatores regionais ou sociais. Por exemplo, a variante [r] é mais comum em algumas regiões do Brasil, enquanto a variante [ʁ] é mais comum em outras. Além disso, fatores sociais, como o nível de escolaridade, podem influenciar a preferência por uma das variantes.
    • Fenômeno: Variação sintática.
    • Variável: Uso da preposição “í” ou “ir”.
    • Variantes: “í” e “ir”.
    • Tipo de variação: Sintática.
    • Fatores extralinguísticos motivadores: Essa variação pode estar relacionada a fatores sociais e regionais. O uso de “í” pode ser mais comum em algumas regiões ou grupos sociais, enquanto o uso de “ir” pode ser mais comum em outras. Além disso, a variação também pode estar relacionada ao grau de formalidade da situação de fala.
  • Fenômeno de variação linguística no Texto 2:
    • -Fenômeno: Variação lexical.
    • Variável: Vocabulário específico.
    • Variantes: “quintal” e “sítio”.
    • Tipo de variação: Lexical.
    • Fatores extralinguísticos motivadores: A variação lexical pode estar relacionada a diferenças regionais ou a diferenças de registro. Dependendo da região ou do contexto social, o termo utilizado para se referir a um espaço rural pode variar entre “quintal” e “sítio”.
    • Fenômeno: Variação morfológica.
    • Variável: Flexão de plural de “ônibus”.
    • Variantes: “ônibus” e “onibus”.
    • Tipo de variação: Morfológica.
    • Fatores extralinguísticos motivadores: A variação na flexão de plural pode ser influenciada por fatores ortográficos e por normas de uso da língua. Alguns falantes podem utilizar a forma “ônibus” considerando a norma padrão, enquanto outros podem adotar a forma “onibus” por uma questão de simplificação ortográfica ou por influência da linguagem oral.

Referências:

  1. Labov, W. (1969). Contraction, deletion, and inherent variability of the English copula. Language, 45(4), 715-762.
  2. Chomsky, N. (1957). Syntactic structures. Mouton de Gruyter.
  3. Hawkins, J. A. (2004). Efficiency and complexity in grammars. Oxford University Press.
  4. . Geertz, C. (1973). The interpretation of cultures. Basic Books.Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)