Lucas Tonaco*
___________________
Paradoxalmente os cortes de gastos na COPASA estão trazendo impactos enormemente negativos. Com demissões arbitrárias e injustas, a companhia que ao invés de refletir sobre seu próprio patrimônio maior – a imagem – que dia sim e dia também vem passando dificuldades na imprensa mineira recentemente, fruto de uma problemática bem grave que ocorre se relacionando entre falta de água, recomposição de asfalto, obras atrasadas e uma série de outras questões, faz com que as decisões por cortes de gastos, gerando um aumento de terceirizações e substituição de mão de obra especializada reflita na problemática grave que ocorre no momento.

A saída de mão de obra especializada sempre reflete no óbvio – a fuga de know-how, eis aí o problema – a produtividade e a curva de aprendizado em atividades especializadas estão diretamente relacionadas a outros fatores na vida laboral, tais como a perspectivas de continuidade, investimento em conhecimento especializado, salários mais altos ou quaisquer outros “incentivos/fatores motivadores”, para não referenciar centenas de outros artigos, sintetiza-se aqui no levantamento bibliográfico de dezenas de artigos para a conclusão anteriormente citada(BRITO, 2020). Para se ter ideia, a produtividade do trabalhador brasileiro é a mesma a 30 anos, correlacionado com o ciclo de desinvestimentos no setor público, instabilidade das relações trabalhistas (especialmente após 2017), informalidade, privatizações e terceirizações. A título de uma breve comparação, o trabalhador da Alemanha consegue ser 3 vezes mais produtivo que o brasileiro, ganhando em números relativos e absolutos mais e trabalhando 20% menos. Estabilidade laboral, investimento em especialização e complexificação econômica, portanto são essenciais quando o assunto é produtividade.

Há outros fatores envolvidos na produtividade, tais como cultura organizacional e implementos sociotécnicos e tecnológicos (DE NEGRI, 2015), onde é o caso da COPASA que vem implementando cada vez mais tecnologia, principalmente substitutiva – desde de ERP (SAP) até sistemas de automação na operação de tratamento de água e esgoto.

Ocorre que na contramão da lógica dos investimentos em tecnologia, que deveriam criar a tal destruição criativa Schumpeteriana dos investimentos em tecnologia,  e de uma lógica de corte de gastos um pouco ortodoxa demais – muito aliada a engenharia financeira atual, no último resultado, os gastos com terceirizados, saltaram 14,9%, alcançando R$ 181,9 milhões. Com mais empreiteiras e mais terceirizações, onde dentro delas uma política de extração de mais valia, gerando salários baixos, baixa especialização e um  turnover alto  fazendo um processo sistemático de redução de ligações por empregados próprios menores, e evidenciando que as terceirizações não sejam devidamente equalizadas a tal produtividade esperada, mas sim a uma lógica de redução de gastos acrítica e que mereceria sim dados e relatórios qualitativos com a finalidade de diagnosticar  outras tendências.

Mais uma vez, é óbvio que esse espaço de redução de empregados próprios por mil ligações, faz com que as terceirizações ocupem tal espaço, de modo menos produtivo, fazendo uma simbiose e uma confusão da imagem social e uma injustiça interna – a sociedade, não diferenciando o que é empregado próprio e terceirizado, interpreta, portanto, que a COPASA passa a ser uma empresa cada vez menos produtiva, quando a culpa não é do empregado, que se qualifica mais, é mais fiscalizado, mais exigido e têm uma vida laboral com mais comprometimento com a imagem do saneamento pois além de ter planejado uma carreira na empresa, também têm pretensões de promoções na mesma ou outros fatores motivacionais, que sempre refletiram em mais entrega de valor institucional e social.

Abaixo segue os gráficos da tendência de redução de empregados por mil ligações:

Conclusão inevitável: assim como no advento da terceirização da leitura, as terceirizações da COPASA aliadas a políticas de falta de controle de métrica de produtividade, estímulos, investimento em capital humano e estabilidade da relação com os próprios trabalhadores, a longo prazo, por óbvio são nocivas demais para o empregado e para a própria COPASA, também, claro, para o investidor, ao mesmo tempo em que até mesmo contemporaneamente, dado o nível de reclamações sobre a empresa, já afeta a imagem da mesma, e é claro, também a do trabalhador. Trabalhar mais, não é trabalhar melhor. Cortar mais custos, não é cortar melhores custos. Pensar mais no curto prazo, não é pensar que essa seja a melhor solução. A COPASA que os mineiros merecem e seus trabalhadores merecem, é a COPASA que investe mais, principalmente em si mesma.

 Bibliografia
– BRITO, Dayane Kaytele Goveia; SANTOS, Nilvane Correa dos.Fatores motivacionais: elementos que estimulam a produtividade do colaborador. Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2020.

– DE NEGRI, Fernanda. Radar : tecnologia, produção e comércio exterior : n. 42, dez. 2015. Inovação e produtividade: por uma renovada agenda de políticas públicas. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 2015.

-Relatório Genial Investimentos – https://analisa.genialinvestimentos.com.br/acoes/sabesp/saneamento-sapr11-csmg3-atualizacao-de-estimativas-sanepar-adiante-de-um-grande-evento/ (Acessado em 25/06/2024)

-Produtividade do brasileiro é a mesma há 30 anos – Jornal da USP – https://jornal.usp.br/?p=301552 (Acessado em 25/06/2024).

Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)