Lucas Tonaco*
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É essencial, que nestes novos tempos de concepções baseadas na preservação da biodiversidade, intersistêmica, e também na escalada do aquecimento global, muito influenciada pelo antropoceno, seja necessário abordagens mais  aguçadas sobre a relação entre saneamento e humanidade, para além dos dispositivos de Resolução 15/9 do Conselho de Direitos Humanos, Observação geral nº 15 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Resolução 70/169 da Assembleia Geral e da Resolução 33/10 do Conselho de Direitos Humanos, da ONU, é necessário a observância de um perspectivismo para além da institucionalidade. É preciso integrar essas perspectivas antropológicas aos paradigmas de desenvolvimento e acesso ao WASH, principalmente no que seja relevante a concepção ambiental e cultural.

Um artigo essencial para a compreensão de como realizar essa promoção “Global Water, Sanitation, and Hygiene Approaches: Anthropological Contributions and Future Directions for Engineering. Environmental Engineering Science”, os autores argumentam que os insights da antropologia são cada vez mais fundamentais para compreender o WASH como um fenômeno multidimensional, multiescalar e culturalmente embutido. Outra inferência interessante, é que apesar disso, essas contribuições ainda não foram suficientemente operacionalizadas ou implementadas nos programas de desenvolvimento WASH, o que seria um problema cada vez mais sistêmico da perspectiva desde de a ontologia dos conflitos pela água até mesmo a promoção de saneamento de soluções cada vez mais incidentes em realidades específicas, abrangendo contrastes diversos.

O artigo discorre que seis temas principais foram identificados como essenciais para futuras abordagens de engenharia que visam integrar de forma mais equitativa os stakeholders e múltiplos pontos de vista, e nisso uma solução dimensionalmente antropológica:

  1. A Compreensão Crítica de Abordagens Anteriores: na avaliação de uma dinâmica que seja criticamente das abordagens passadas para entender suas limitações e sucessos, para além das questões de feedback enquanto um processo linear.
  2. Intervenções Culturalmente Conscientes: desenvolver intervenções que respeitem e integrem as práticas culturais locais, ou seja, adaptáveis.
  3. Construção de Capacidades com Consideração dos Impactos (In)Esperados: foco na construção de capacidades locais, considerando tanto os impactos intencionais quanto os não intencionais.
  4. Tecnologia Co-Criada: envolvimento das comunidades na co-criação de tecnologias WASH.
  5. Colaboração entre Antropologia e Engenharia: o fomento com a colaboração interdisciplinar para enriquecer as abordagens de WASH.
  6. Iniciativas Prontas para Desafios: é muito necessário desenvolver iniciativas que respondam às desigualdades sociais e ambientais, tanto históricas quanto emergentes. 

O artigo é bem relevante ao destacar como a integração de perspectivas antropológicas pode levar a uma implementação mais equitativa e bem-sucedida de projetos WASH, o que em geral, na perspectiva integrativa do dito WASH com STEM para questões sociológicas complexas especialmente para grupos marginalizados e diversos, e bem relevante os autores enfatizam a necessidade de uma compreensão transformativa do WASH, que inclua não apenas os aspectos técnicos, mas também os sociais e culturais, o que na verdade seria também uma questão para filosofia da ciência mas também de uma dinâmica cognitiva sobre o desenvolvimento de aspectos de políticas públicas em saneamento.

Conclusão

É necessário, portanto, artigos como o citado para uma integração cada vez mais da antropologia enquanto ferramenta de alteridade na busca por soluções em saneamento, que por vezes tiram vidas, e que são interessantes para  significativamente o campo do WASH ao apresentar uma argumentação sólida sobre a importância de uma abordagem multidisciplinar e culturalmente sensível, conforme na confecção do artigo, foi devidamente abordado pelos autores o fornecimento de um roteiro claro para futuras pesquisas e práticas que busquem melhorar a segurança e a eficácia das iniciativas WASH.

Referência

  • Workman, C. L., Cairns, M. R., delos Reyes III, F. L., & Verbyla, M. E. (2021). Global Water, Sanitation, and Hygiene Approaches: Anthropological Contributions and Future Directions for Engineering. Environmental Engineering Science, 38(5). Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/ees.2020.0321.

Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)