Lucas Tonaco*
___________________

 A Falibilidade e Reflexividade –  de Karl Popper – já seriam um bom caminho para explicação do curioso fenômeno de “resultados que surpreendem positivamente, mas que são negativamente precificados”

Paradoxalmente, a COPASA apresentou números acima das expectativas. Aqui duas perguntas mais básicas e elementares do processo: quais números e quais expectativas?

Os números, sempre, nas análises atuais chamando uma profunda atenção para os indicadores financeiros – a receita líquida da Copasa ficou em R$ 1.741,5 milhões, fundamentados em métricas do volume medido, +7,3% para água e +7,7% e esgoto, porém nesses mesmos indicadores, há as obviedades temporárias: queda no preço médio da tarifa, repasses tarifários com valores maiores, fenômenos estes com destaque para a mudança do médio prazo e longo de recentes alterações de política regulatória, que vai permitir adiantamentos de repasses cada vez maiores e em primeiro momento, em um curto prazo, com descontos em contas maiores, também, em sínteses no exemplo empírico de Patos de Minas (MG), mas obviamente, com a mudança regulatória com revisões tarifárias baseadas variáveis como alterações de matriz de risco, no médio prazo, a tendência é que esse tipo de política faça a readequação de valores tarifários maiores, e o adiantamento do repasse, tautologicamente, por óbvio, é de um repasse (contratual e regulatório) que já iria acontecer. Portanto, para os números da COPASA em fatores econômicos, em médio e longo prazo, essa política de alteração regulatória, que gera descontos imediatos e adiantamentos ocasionadas entre outras coisas por processos de encampação mal sucedidos e outras celeumas políticas, é efetiva.

Ler nas entrelinhas – entender como os indicadores contam uma história ou como explicar “os números extraordinários e as ações caindo”

Endividamento em ascendência (devido à variação cambial do euro, também), custos com energia elétrica cada vez maiores (voilá acontecerá com todas as utilities vide privatização da Eletrobrás) , custos operacionais aumentando e outras histórias que os números contam fazem parte da explicação do mau humor do mercado financeiro com o resultado. Mas, em síntese, há curiosidades maiores com relação à COPASA no momento.

1) Mais uma vez: há um descompasso em incrementos em produtividade do pessoal total e os aumentos de custos com terceirização, afinal, os indicadores que a COPASA usam atualmente não são, em tese, os mais adequados para medir essa mesma produtividade. Separar pessoal próprio – que é produtivo, mas vem diminuindo em termos quantitativos (inclusive pela não convocação de concursos), da improdutividade dos serviços terceirizados é essencial, para isso, portanto, há uma defesa de mudanças de indicadores para evidenciar o atual erro da COPASA em insistir em terceirizações, deixando a empresa cada vez mais improdutiva. Para isso inclusive há detalhes no artigo A COPASA e os limites da terceirização – a produção de uma narrativa sobre produtividade e seus simulacros.Em síntese: vejamos portanto, o aumento de custos com terceirização da COPASA aumentarem 17,6% e a produtividade por óbvio (e por números), não. Haverá um momento, em que será necessário:


Fonte: Resultados da COPASA 2T24

2) Agora, aqui cabe um disclaimer bem interessante: abertamente o mercado financeiro, no momento, diz que a empresa continuará a ser estatal. O que isso comprova inclusive, para além de tudo, o óbvio: o mercado com o wishful thinking muitas vezes ignora as teses de Karl Popper sobre a falibilidade e reflexividade, para usar da categoria irônica, vamos a citação de um comunista, Soros, de um artigo na Financial Times, em 2009, s um processo de feedback positivo é auto reforçador. Não pode durar para sempre porque, eventualmente, as opiniões dos participantes se tornariam tão distantes da realidade objetiva que os participantes teriam que reconhecê-las como irrealistas…Normalmente em situações distantes do equilíbrio a divergência entre as percepções e a realidade leva a um clímax que desencadeia um processo de feedback positivo na direção oposta. Esses processos ou bolhas, inicialmente auto reforçadores, mas eventualmente autodestrutivos, são característicos dos mercados financeiros, mas também podem ser encontrados em outras esferas”. Sinteticamente, a conclusão é que direcionar a COPASA para variáveis puramente financeiras, tem fronteiras, e direcionar para uma política (atrasada) de cortes de pessoal e aumento de terceirizações, como citado acima, também têm fronteiras. Análises que não levam em consideração elementos basilares como os encontrados na Teoria Geral da Reflexividade, também, têm…fronteiras.


Fonte: Copasa (CSMG3): Resultado do 2T24

Ao contrário do caso SABESP ou como o mercado financeiro ganha com as narrativas de privatizações, a questão residual, é que na COPASA, a história (e os indicadores), segundo o próprio mercado, é outra.

Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)