Lucas Tonaco, diretor de comunicação do SINDÁGUA-MG e da FNU (Federação Nacional dos Urbanitários), lançará na Câmara dos Deputados, Brasília, o livro Urbanitários(as) do Brasil: Perspectivas dos setores de água, energia, gás e meio-ambiente.
O livro foi resultado de uma sistemática coleta de informações sobre trabalhadores(as) urbanitários(as), especialmente nas lideranças de movimentos ligados ao setor, principalmente sindicalistas, pesquisadores e assessores. Também foram acrescidas informações de artigos especializados na cobertura dos fenômenos, acontecimentos, processos e desdobramentos decorrentes de questões urbanitárias, foram coletados de jornais de grande circulação nacional, comunicados e noticiários de departamentos de comunicação de sindicatos, federação, observatórios e coletivos, tão bem também de artigos acadêmicos que têm como temática água, energia, gás e meio-ambiente no escopo territorial brasileiro. A necessidade de um adensamento nos indivíduos que participam do processo presente urbanitário, tal como descrito no início do parágrafo anterior vai de encontro a uma tese sobre descrição densa, como quer na exposição das teses do antropólogo Clifford Geertz, Praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário e assim por diante (GEERTZ, 2008, p. 4). Porém, conforme se avança na perspectiva dos sujeitos, firma-se portanto ser necessária posterior produção de um fazer metodológico etnográfico, o que não é precisamente o objeto de tal livro, pois aqui mescla-se análises objetivas, análises da perspectivas de imersão do sujeito em formas de seus depoimentos e relatos, dados numéricos absolutos nos campos de outras ciências próprias que lidam nos setores de água, energia, gás e meio-ambiente. Destaca-se também que parte substancial da epistemologia histórica foi quase integralmente baseada na obra FNU 55 Anos e de outros documentos advindos da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU). A coleta de informações finalizou ao final de junho de 2024, com o escopo territorial dos objetos no Brasil.
A definição do setor urbanitário, no Brasil, se passa por uma perspectiva para além das questões puramente infraestruturais, mas também, pela relevância de um exercício que historicamente se mostrou como não só essencial para o avanço de uma ideia de “modernização” do próprio Brasil, para como também, nessa mesma essencialidade a aplicação de políticas públicas vitais para o Estado: soberania energética, desenvolvimento econômico, saúde pública, avanço do planejamento urbano enquanto provimento de soluções adaptáveis das realidades vigentes e até questões culturais – afinal, num Brasil com proporções continentai, qualquer tipo de relação com a categorização de água e energia se passam também por interpretar que culturas diferentes, etnias diferentes e gêneros diferentes neste mesmo Brasil são afetos e se relacionam de forma diferentes com tais questões.
Se por um lado a criação de uma nação e consequentemente no desdobramento weberiano de estado passam necessariamente pelas suas caracterizações de agrupamentos unidos por interseções em sentimentos de pertencimento com signos comuns em um mesmo território, a criação de urbanidades depende essencialmente de promover em parâmetros minimamente igualitários a instalação, o acesso e a manutenção, nessas mesmas cidades, afinal, historicamente os primeiros provimentos urbanos no Brasil surgiram margeando acessos facilitados a água, e contemporaneamente, a energia.
Em termos da análise destes mesmos agrupamentos, há que se entender também os conflitos, pois mesmo na origem das demarcações territoriais, rios eram usados cartograficamente para a divisão de territórios e nas eminências de fronteiras por obviedade, também conflitos, atualmente, devido ao avanço do capitalismo em sua fase de acumulação, a disputa por água e energia passa a ter um viés de disputas por recursos, e com crescimento populacional aumentando, no antropoceno a irreversibilidade do avanço das modificações climáticas extremas e nunca antes vistas tal como também novas variáveis tais quais as modificações no capitalismo global com o advento da financeirização da água e energia, trazem à luz uma perspectiva necessária: a dos sujeitos que estão diretamente inseridos neste processo e fenômeno que é o da urbanidade, e nesse contexto, a necessidade da compreensão da situação atual destes trabalhadores do setor.
Uma espécie de apanhado geral, sobre a organização, desafios, perspectivas, panoramas e dados objetivos da realidade urbanitária é que se pretende com este livro, pois o tema é extenso e transversal: versar sobre a realidade urbanitária perpassa por entender quais entidades estão institucionalmente postas, como a historicidade dessa luta se dá, quais são as complexidade da busca por direitos trabalhistas enfrenta-se, e onde essa luta se dá, e nesse sentido de localização na finalidade de expressão conceito de Bourdieu em sua literalidade contextual – do campo e do habitus. Deixando evidente também a fundamentação da não exclusão de um perspectivismo subjetivo de cada urbanitário em seu lócus nestes fenômeno, como citado anteriormente, transversalmente para além da busca de direitos e seu desdobramento para dentro do Estado institucionalizado, travando batalhas contra privatizações, aumento nas jornadas de trabalho, terceirizações, quarteirizações e quarteirizações,a possibilidade de perda de concessões nos territórios empregados, modificações nas regulamentações de segurança do trabalho, negociações coletivas, condições laborais e até a modificações de cenários de categorias que passam por modificações grandes em esferas diferentes, que variam desde de funcionários públicos concursados em municípios que prestam estes serviços até terceirizado de empresa pública federal recém privatizada – a gama das questões urbanitários é imensa e o acirramento das disputas é proporcional a isso.
Com a dinamicidade das disputas do capitalismo, as recém alterações políticas com o avanço da extrema-direita, e consequentemente as redefinições sobre os papéis dos direitos trabalhistas e o “tamanho” do Estado levando a debates sobre privatizações, a reforma trabalhista recente (Lei 13.467/2017), e outras especificidades dos setores como saneamento o Novo Marco do Saneamento (Lei 14.026/2020), as alterações normativas e regulatórias, em especial da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), as regionalizações (blocos, unidades e regiões-metropolitanas), PPP (Parceria Público-Privada), as privatizações do saneamento, as encampação e as judicialização diversas (presentes também na energia) e no setor energético as privatizações de distribuidoras, privatização da Eletrobras, as alterações da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), os investimentos massivos externos nos leilões do setor e as discussões sobre redefinições da matriz energética, energia verde e energia renovável. Tal dinâmica, citada pelas variáveis anteriores criam a um cenário complexo do qual se altera a cada dia e exige dos urbanitários métodos e tecnologias de lutas diversos, adaptáveis e cada vez mais intensos.
A Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), possui desde sua origem, em 1951, a tarefa histórica da organizacional das lutas pelos trabalhadores urbanitários do Brasil em interface com os sindicatos existentes em cada estado da federação, portanto, na contemporaneidade os desafios são muitos, como também os diagnósticos apontam para um agravamento do cenário de conflitos – desafios climáticos, disputa por recursos na sociedade, neste caso água a energia e reorganização da classe urbanitária, são apenas a pontos dos quais têm se desdobrado este processo. O livro presente dará, como em seu título, objetivamente um perspectivismo urbanitário do Brasil adentro.