No Brasil começa neste sábado (17/3), em Brasília, o Fórum Alternativo Mundial da Água que irá discutir água como direito e não mercadoria. Infome-se aqui sobre o FAMA 2018
Em meio ao perigo que representa a crescente escassez de água em todo o mundo, um painel de 11 chefes de Estado e um assessor especial estabelecido pela ONU e pelo Banco Mundial lançou na quarta-feira (14/3) um relatório e uma carta aberta denominados “Faça cada gota contar: uma agenda de ação pela água”.
A publicação pede uma “mudança fundamental” na forma como o mundo administra a água. Sem uma melhor gestão deste valioso recurso natural, afirmam seus autores, não será possível cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – particularmente o Objetivo seis, que visa assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.
De acordo com o relatório, 40% das pessoas em todo o mundo estão sendo afetadas pela escassez de água. Se o problema não for solucionado, cerca de 700 milhões de pessoas poderiam ser deslocadas até 2030 em busca de água.
Mais de 2 bilhões de pessoas são obrigadas a beber água insegura e mais de 4,5 bilhões não possuem serviços de saneamento gerenciados de forma segura.
“A água deve ser uma prioridade absoluta em tudo o que fazemos”
– Secretário-geral da ONU,
António Guterres
O relatório mostra que mulheres e meninas sofrem desproporcionalmente quando falta água e saneamento, afetando a saúde e muitas vezes restringindo as oportunidades de trabalho e educação.
Cerca de 80% das águas residuais são descarregadas sem tratamento no ambiente. Além disso, catástrofes relacionadas à água representam 90% entre as 1 mil catástrofes naturais mais devastadoras desde 1990.
“É minha profunda convicção que a água é uma questão de vida e morte”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao receber o relatório na quarta-feira (14), observando que 60% do corpo humano é água.
Ele disse que as catástrofes naturais relacionadas com a água estão ocorrendo mais frequentemente e se tornando cada vez mais perigosas em todos os lugares. Dessa forma, disse, “a água é realmente uma questão de vida e morte” e “deve ser uma prioridade absoluta em tudo o que fazemos”.
O presidente do Grupo do Banco Mundial, Jim Yong Kim, enfatizou que os chefes de Estado e de governo formaram o painel “porque o mundo não pode mais se dar o luxo de ter a água como garantida”.
“Os ecossistemas em que a própria vida se baseia – nossa segurança alimentar, sustentabilidade energética, saúde pública, empregos, cidades – estão em risco devido à forma como a água é gerenciada hoje”, alertou.
“O mundo não pode mais se dar o luxo de ter a água como garantida”
– Presidente do Banco Mundial,
Jim Yong Kim
O painel, criado em 2016 por um período inicial de dois anos, está defendendo políticas baseadas em evidências e abordagens inovadoras nos níveis global, nacional e local para tornar o gerenciamento da água, bem como os serviços de água e saneamento, atraentes para investimento e mais resilientes a desastres.
O painel solicita políticas que permitam pelo menos uma duplicação do investimento em infraestrutura da água nos próximos cinco anos.
O relatório também destaca a necessidade essencial de parcerias entre governos, comunidades, setor privado e pesquisadores.
Em uma carta aberta, eles concluem: “Quem quer que seja, seja lá o que fizer, onde quer que você esteja, todos nós temos uma responsabilidade compartilhada para mudar o futuro da água. Faça cada gota contar. É hora de agir”. (fonte: Nações Unidas)
Acesse aqui o relatório do painel na íntegra.
.Leia abaixo a carta aberta “Faça cada gota contar: uma agenda de ação pela água”
Faça cada gota contar: uma agenda de ação pela água
Carta aberta do Painel de Alto Nível sobre Água
O mundo enfrenta uma crise de água. A água é um recurso precioso e um dos maiores riscos globais para o progresso econômico, a erradicação da pobreza, a paz e a segurança e o desenvolvimento sustentável.
Essa crise se deve a grandes lacunas no acesso ao abastecimento de água e saneamento, ao crescimento das populações, à poluição, à degradação dos ecossistemas e aos efeitos das mudanças climáticas.
O Painel de Alto Nível sobre Água propõe uma nova Agenda de Ação pela Água, transformando nosso desafio da água em uma oportunidade. Precisamos fazer cada gota contar.
Instamos uma nova abordagem: repensar como entendemos, valoramos e gerenciamos a água como um recurso precioso, catalisando as mudanças e construindo parcerias para alcançar os objetivos relacionados à água da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Os valores sociais, culturais, econômicos e ambientais da água para a sociedade precisam ser reavaliados. A água precisa ser alocada de maneira que sejam maximizados os benefícios globais para nossas sociedades. Esses benefícios incluem água limpa para beber, produzindo nossos alimentos e energia, bem como os benefícios derivados dos rios, lagos, aquíferos e zonas úmidas saudáveis.
São necessárias políticas sólidas, governança transparente e abordagens inovadoras, em nível nacional e local, para tornar a gestão da água e os serviços de água e saneamento atraentes para o investimento, e resilientes aos desastres. Precisamos implementar as políticas que permitirão pelo menos uma duplicação do investimento na infraestrutura da água nos próximos cinco anos.
As muitas mudanças necessárias não serão fáceis, mas não temos escolha. Convocamos nossos colegas líderes a tomar medidas agora, inspirar a colaboração e promover uma abordagem integrada em todo o governo.
Será necessária uma abordagem inclusiva, com base em setores como agricultura e líderes, como prefeitos e presidentes de empresas. Novas parcerias e formas de trabalho serão cruciais. Governos, comunidades, setor privado e pesquisadores precisarão colaborar. Onde as bacias hidrográficas e os aquíferos atravessam fronteiras, países e comunidades vizinhas precisarão trabalhar juntos de forma produtiva, para obter resultados que beneficiarão todas as partes.
Temos de ser responsáveis também como indivíduos. Todos devemos valorizar a água como um recurso precioso, usá-lo com sabedoria, não desperdiçá-lo ou poluí-lo, e inspirar outros a fazer o mesmo.
Nosso relatório oferece uma agenda e recomendações para ações que refletem nossas perspectivas e experiências distintas como líderes de diferentes regiões do mundo, e nosso breve vídeo mostra como o mundo pode responder efetivamente aos desafios que enfrentamos.
A Década Internacional de Ação, “Água para o Desenvolvimento Sustentável”, começa em 22 de março de 2018. Solicitamos que você se conecte com nós para se comprometer a avaliar a água e a agir para enfrentar nosso desafio hídrico dentro desta década.
Quem quer que seja, seja lá o que fizer, onde quer que você esteja, todos nós temos uma responsabilidade compartilhada para mudar o futuro da água.
Faça cada gota contar. É hora de agir.
14 de março de 2018
Membros do Painel de Alto Nível sobre Água:
Ilhas Maurício (Copresidente)
Presidente, Sra. Ameenah Gurib-Fakim
México (Copresidente)
Presidente, Sr. Enrique Peña Nieto
Austrália
Primeiro-ministro, Sr. Malcolm Turnbull
Bangladesh
Primeiro-ministro, Sra. Sheikh Hasina
Hungria
Presidente, Sr. János Áder
Jordânia
Primeiro-ministro e ministro da Defesa, Sr. Hani Al-Mulki
Países Baixos
Primeiro-ministro, Sr. Mark Rutte
Peru
Presidente, Sr. Pedro Pablo Kuczynski Godard
África do Sul
Presidente, Sr. Jacob Zuma (membro até 14 de fevereiro de 2018)
Senegal
Presidente, Sr. Macky Sall
Tajiquistão
Presidente, Sr. Emomali Rahmon
Assessor Especial
Ex-primeiro-ministro da Coreia da Sul, Sr. Han Seung-soo
PARTICIPE DO FAMA2018!
A Federação Nacional dos Urbanitários – FNU -, que apoia e integra a coordenação nacional do FAMA 2018, subscreve o Manifesto do Fórum Alternativo Mundial da Água por entender que “água deve estar a serviço dos povos de forma soberana, com distribuição da riqueza e sob controle social legítimo, popular, democrático, comunitário, isento de conflitos de interesses econômicos, garantindo assim justiça e paz para a humanidade”.
Água é um direito, não mercadoria!
O Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA 2018 – entre os dias 17 e 22 de março
A iniciativa questiona a legitimidade do ‘Fórum das Corporações” – autodenominado 8º Fórum Mundial da Água – como espaço político para promoção da discussão sobre os problemas relacionados ao tema em escala global, envolvendo governos e sociedade civil. Dizemos NÃO ao Fórum Mundial da Água, apontando a falta de independência, representatividade e legitimidade do conselho organizador, por estar comprometido com empresas que têm como objetivo a mercantilização da água.