“Os empresários com essa campanha não explicitam que o interesse deles que, na verdade, não é disponibilizar água à toda a população. Eles encaram o saneamento como uma mercadoria e não como um bem público, como um direito essencial e fundamental.”
A campanha #Somos Mais Saneamento, promovida por grandes empresas privadas do setor de saneamento, prepara uma segunda fase, dessa vez com foco nas eleições gerais que se aproximam. A primeira fase foi desenvolvida durante o 8º Fórum Mundial da Água – o ‘fórum das corporações’ – realizado em março último, em Brasília.
Segundo o SINDCON (Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto), o objetivo da campanha é ampliar a rede, incentivar o compartilhamento da campanha em diferentes canais e priorizar as mensagens de maior impacto, especialmente neste momento em que o país se prepara para eleger seus governantes, de maneira que o saneamento seja entendido como uma prioridade nacional.
“Na verdade, o que essas entidades e empresas querem é tentar passar uma ideia para a opinião pública que elas, realmente, estão preocupadas com a universalização do saneamento, mas isso é uma grande falácia, uma grande mentira. As empresas privadas já têm o mapeamento de todos sistemas de saneamento no Brasil que elas querem assumir, ou seja, os sistemas nas grandes cidades e regiões metropolitanas, que dão lucro”, explica Pedro Romildo, diretor de Saneamento da CNU/FNU – Federação Nacional dos Urbanitários.
Pedro explica que as empresas transnacionais têm interesse em explorar a água e as concessões no Brasil. “E o interessante que elas querem assumir na modalidade PPP – Parceria Público Privada -, em que basicamente não há nenhum risco para o capital privado, porque o dinheiro que vai ser aplicado é dinheiro público. Então, a empresa privada só assume a gestão e a operação do sistema, mas todos os investimentos que são feitos, basicamente, 90% de todo o investimento é feito com recursos públicos”, explica.
Ao lado do governo golpista e entreguista de Temer, que pretende em breve editar medida provisória para a privatização do saneamento, essas empresas querem apenas ficar como o “filé mignon”, ou seja, as cidades que dão lucro. Já os municípios pequenos e longínquos aonde são necessários grandes investimentos para garantir água e saneamento a toda a população continuaram a depender do poder público.
Segundo o dirigente, essa é uma campanha que está sendo feita exatamente para garantir lucro, e garantir o lucro fácil, às custas de uma tarifa elevada, de um serviço de péssima qualidade, onde o estado é que tem que garantir o financiamento para a ampliação do sistema.
“Os empresários com essa campanha não explicitam que o interesse deles que, na verdade, não é disponibilizar água à toda a população. Eles encaram o saneamento como uma mercadoria e não como um bem público, como um direito essencial e fundamental”, ressalta Romildo.
ENA – Encontro Nacional das Águas
Algumas das ações da campanha dos empresários estão voltadas para a divulgação durante o 7º ENA – Encontro Nacional das Águas, que acontece em São Paulo (SP), nos dias 7 e 8 de agosto.
O evento, promovido pelo SINDCON em parceria com a ABCON (Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Esgoto), receberá em sua abertura as principais lideranças políticas e empresariais do saneamento.
Participam da campanha as seguintes entidades: SINDCON, ABCON, CNI, Frente Nacional de Prefeitos, Apeop, Abimaq/Sindesam, Abdib, Abetre, Abrafiltros, ABAR, ABAS, Abrampa, Aesbe, ABES/RJ, Comissão de Saneamento do IASP, OAB/SP, CEBDS, Felsberg Associados, Dal Pozzo Advogados, FGV CERI, Fundação Amazonas Sustentável, GO Associados, Hydrus, IBDEE, Ibeji, Instituto Ethos, Instituto Democracia e Liberdade, Pezco, Itron, Mirasoft Tecnologia, portais Saneamento Básico e Tratamento de Água, Pacto Global, Rebob, Secovi, Instituto de Engenharia, Trevisan Escola de Negócios, Giamundo Neto Advogados e Lacaz Martins, Pereira Neto, Gurevich & Schoueri Advogados.
ONDAS fará o debate permanente sobre a questão da água e do saneamento
O Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento – ONDAS –, recém-criado, irá promover a pesquisa e o debate a questão da água e do saneamento em nosso país.
O observatório também será uma das formas de resistência à privatização do saneamento no país. Ele foi criado no último dia 25 de abril, em Brasília, por entidades sociais, sindicais e acadêmicas. Seu objetivo é formular políticas para o saneamento básico, lutar contra qualquer tentativa de privatização da água e elaborar documentos no setor.
A assembleia de fundação (oficial) do ONDAS está agendada para o próximo dia 7 de junho, às 17 horas, na Universidade de Brasília – UnB.
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