artigo: Julimar Roberto*
Um jogo de interesses e troca de favores. Assim pode ser definida a relação do governo golpista de Michel Temer com o mercado financeiro. Nesse toma lá dá cá, diversas empresas pertencentes ao Estado entraram na mira do golpismo e estão sob ameaça de privatização. Estima-se que, apenas para este ano, há 75 projetos – entre privatizações, concessões, parcerias público-privado (PPPs) – que devem passar do controle do Estado à iniciativa privada.
Essa onda privatista é uma continuidade para a política de entrega do patrimônio público, fomentada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) entre 1995 e 2003. O ex-presidente foi o responsável pela maior desestatização do país. Sob a justificativa de melhoria das contas públicas, empresas indispensáveis dos mais variados setores foram vendidas a preço de banana, apenas para saciar a sede do mercado financeiro, deixando ao país uma dívida gigantesca.
Durante os governos progressistas, a nefasta política de privatização foi freada e o Brasil voltou a ter o controle sobre áreas estratégicas da economia. Já em 2016, com a destituição de Dilma Rousseff – nossa presidenta, legitimamente eleita -, os projetos entreguistas voltaram com toda força, como mais uma estratégia do golpe para reduzir o papel do Estado enquanto agente social e promotor de políticas públicas e sociais.
Desde então, deu-se início a uma política de imediatismo para que grandes empresas públicas e estatais sejam privatizadas. Trata-se do pagamento do golpe, uma conta que vem sendo cobrada diariamente pelo mercado. Isso pode ser notado na pressa do governo em concluir o processo de entrega da Eletrobrás, carro-chefe do encadeamento da privatização. A medida, no entanto, tem enfrentado grande resistência de inúmeros movimentos, que compreendem que a empresa, além de estratégica para o desenvolvimento financeiro do país, tem importante papel social.
Ao privatizar um bem público, os golpistas ignoram os prejuízos que a ação trará a trabalhadores e à população. Enquanto quem trabalha para manter a empresa firme ficará à mercê, sem emprego, a sociedade sofrerá com a precarização dos serviços prestados. No caso da Eletrobrás, por exemplo, que vende a energia mais barata do Brasil, o impacto será diretamente no bolso do consumidor, que passará um valor bem mais alto.
As mesmas consequências serão sentidas com a privatização da Petrobrás, que aos poucos está sendo entregue ao capital internacional. O pré-sal, uma das maiores riquezas do Brasil, hoje, encontra-se quase que em sua totalidade sob domínio de multinacionais estrangeiras. Não podemos nos esquecer também dos nossos bancos públicos, que estão passando por um desmonte camuflado de reestruturação: inúmeras agências sendo fechadas pelo país, extinção de milhares de postos de trabalho, dando a entender que é o caminho para que sejam entregues à iniciativa privada.
Nós, enquanto brasileiros, não podemos assistir calado à venda de nossos patrimônios. Ao longo de décadas, riquezas conquistadas com nossa força de trabalho foram entregues ao mercado, e a tendência é que essa ação ganhe força, caso não iniciemos um forte movimento de luta. Seja nas ruas, nas redes ou no ambiente de trabalho, devemos expor nossa posição contrária a qualquer tipo de privatização. Precisamos tomar todos os espaços sociais e defender nossa soberania nacional. É preciso resistir e dizer NÃO à privatização!
*Julimar Roberto, secretário de Administração e Finanças da CUT Brasília