Em 1972, Jane Fonda foi sarcasticamente apelidada de “Hanói Jane” ao aparecer sentada numa bateria antiaérea ao lado dos vietcongues, usando um capacete deles, em um protesto contra a guerra do Vietnã. A imagem, porém, foi mal compreendida, Jane foi massacrada pela mídia e pela direita e se desculparia muitas vezes ao se dar conta de que a foto transmitia a ideia de que ela estava contra os soldados norte-americanos, e não em defesa da paz. Nos anos 1980, Hanói Jane se transformaria em musa fitness , mas o apelido permaneceu, assim como o ativismo político da atriz.
Aos 80 anos, além de estar bombando no Netflix com a comédia Grace And Frankie, Jane continua ativíssima e engajada em várias causas ao mesmo tempo: está envolvida na defesa dos nativos americanos Sioux, nos protestos contra a instalação de um oleoduto que passa no meio da floresta de Great Bear e no movimento #MeToo, que denuncia o assédio sexual em Hollywood, e no que ele derivou: “Time’s Up” (“este tempo acabou”, em tradução livre), uma plataforma para ajudar as mulheres trabalhadoras de maneira geral a denunciar o assédio.
Esta semana, a atriz participou, a convite da Federação de Trabalhadores da Califórnia, de um painel em defesa de uma ação coletiva visando proibir os empregadores de condicionar a contratação de trabalhadores à assinatura de acordos prévios que os proíbem de recorrer à Justiça reclamando qualquer direito depois. Lembram do item da “reforma” trabalhista de Temer que diz que o negociado entre as partes vale mais que a lei? Então, a situação dos EUA é como se eles fossem o Brasil na etapa posterior da trama contra a CLT, quando já não existe mais a Justiça trabalhista e estivessem lutando para tê-la de volta.
Em maio, a Suprema Corte norte-americana negou, por 5 votos a 4, o pedido dos sindicatos para proibir a prática, mas agora, graças às denúncias do #MeToo, as ativistas estão recorrendo novamente sob a alegação de que este tipo de acordo afeta e impede as denúncias de assédio sexual. Logo no início de sua fala, a atriz fez questão de lembrar de que, glamour à parte, não há diferenças entre as mulheres trabalhadoras. “Sou Jane Fonda e sou uma trabalhadora. Posso ser famosa, mas sou uma trabalhadora. E tenho sorte de ter um sindicato”, disse, no relato de Samir Sonti, do Sindicato de Trabalhadores em Hotelaria.
Após as denúncias de assédio sexual e estupro contra o megaprodutor Harvey Weinstein virem à tona no ano passado, as atrizes de Hollywood começaram a ser procuradas por trabalhadoras de baixa renda pedindo atenção para os seus problemas, e Jane Fonda logo tomaria a frente da luta em comum. No início do mês passado, Jane estava em intensa campanha no Congresso por melhores direitos no trabalho para as mulheres, lado a lado com representantes dos sindicatos de trabalhadoras domésticas e rurais.
“Se nós vamos realmente confrontar e resolver assuntos de direitos dos trabalhadores e dignidade e segurança contra assédio sexual no ambiente de trabalho, vamos ter que estar ao lado em harmonia e amor e aliança com nossas irmãs de outros setores”, ela disse, de acordo com o Washington Post. “O que aconteceu no último outono com o #MeToo foi decisivo para nós em Hollywood. Transformou a teoria da interseccionalidade em mulheres reais”, disse, segundo o sindicato das trabalhadoras domésticas.