Foi realizado nesta semana o evento Rio Water Week, no Rio de Janeiro, que reuniu especialistas e organizações de diversos países para discutir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS 6 da ONU: “Água e Esgoto para Todos até 2030”.
Cálculos oficiais indicam que a falta de saneamento básico faz o país perder 56 bilhões por ano nas áreas da Saúde e outras. Com a grande desigualdade social que sofre o Brasil, a água chega com mais dificuldade a regiões mais carentes como favelas, comunidade indígenas e regiões afastadas dos grandes centros do país.
Thiago Firmino, que trabalha no Favela Santa Marta Tour como guia local, conhece esse problema de perto. Em entrevista ao site Sputnik Brasil, o morador do morro Santa Marta, localizado no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, contou que os problemas de acesso à água são constantes e afetam diretamente a vida na comunidade, que tem uma população estimada em cerca de 4 mil pessoas.
“Sempre que vai chegando o final do ano vai tendo essa problemática de água […] Têm vários dias sem água, outros dias entrando pouca água na caixa. Aí se tem problema de luz, a bomba não funciona. Se a bomba funciona, a água tá indo para um lado, e não vai outro. O sistema é muito estranho. A água desce de um lado primeiro da favela, depois ela vai lá no final da favela e começa a subir e encher a parte de cima. Muita gente ainda tá sem água. Fica um dia sem, dois dias com, depois dois dias sem, um dia com água”, conta.
“Tem gente que vai ficando 2 a 4 dias sem água, e a maioria é um dia sim, um dia não. Isso é inadmissível. Lugar nenhum você tem água um dia sim, um dia não. A cidade inteira tem água abundante o dia inteiro. A gente paga a água e é essa situação chata, horrível”, protesta o guia local do Santa Marta.
De acordo com ele, o problema é generalizado e afeta grande parte dos moradores, prejudicando o comércio e o funcionamento das creches, por exemplo.
“E a gente continua pagando, a conta chega, a gente vai pagando água. É um transtorno. Tem comércio que tem água dia sim, dia não”, acrescentou.
O ambientalista e membro-fundador da organização Baia Viva, Sérgio Ricardo, em entrevista à Sputnik Brasil, declarou que a situação precária que o Brasil vive em relação ao saneamento básico está relacionado com o processo de privatização dos recursos públicos, dificultando o acesso à água em regiões mais carentes.
“Temos uma situação muito precária aqui no Brasil e em vários países da América Latina e da África em relação à ausência do saneamento básico. Hoje há um conflito muito grande de disputa por esse recurso essencial à vida e há toda uma estratégia das corporações, do sistema financeiro, tentando mercantilizar esse que é um bem comum, bem público, de interesse coletivo”, afirmou.
“Nós não podemos tratar a água como uma commoditie, como um bem mercantil, e esse é um processo que está se dando muito intenso em vários países. No caso aqui do Brasil, o atual governo federal tem planos de privatização das 14 companhias de saneamento. O estado do Rio de Janeiro está sendo um laboratório dessa mercantilização da água”, observou o especialista.
De acordo com Sérgio Ricardo, milhões de pessoas de renda mais baixa só têm acesso à água potável de boa qualidade porque ela é fornecida empresas públicas, citando o caso da CEDAE, no Rio de Janeiro. “Caso ela venha a ser privatizada, os mais pobres vão passar por um processo de uma maior dificuldade de acesso ao abastecimento público”, argumentou.
“O Brasil tem sido objeto de um laboratório do que nós podemos chamar de um neoliberalismo tardio. Nos anos 90 houve um processo muito intenso de privatização de várias estatais, empresas importantes do setor elétrico, que são fundamentais para a qualidade de vida das pessoas, e agora a commoditie da vez é a água. E muitos eventos tem sido realizados no país tentando criar na opinião pública uma ideia de que solução privada vai solucionar os problemas de déficit”, completou o ambientalista. (fonte: Sputnik)
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ÁGUA, ENERGIA E SANEAMENTO NÃO SÃO MERCADORIAS!