No encontro realizado pela CSI, maior confederação de trabalhadores do planeta que prossegue dia 7/12 na Dinamarca, dirigente da CUT explica roteiro do golpe no Brasil: “trama entre EUA, transnacionais, sistema financeiro e elite brasileira”. Lula também enviou carta a sindicalistas e recebeu homenagem no Congresso

Na segunda-feira (3/12), durante as atividades do 4° Congresso da Confederação Sindical Internacional (CSI), encontro que reúne mais de 1.200 sindicalistas de 132 países, o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, denunciou o golpe de Estado vivido no Brasil, que derrubou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rosseff e promoveu um brutal corte nos direitos sociais e trabalhistas no país.

O dirigente classificou o ‘movimento’ como um novo tipo de golpe de Estado, diferente dos vividos nas décadas de 1960 e 1970, em países da América Latina e da África. “Os novos golpes são uma combinação de interesses geopolíticos, especialmente em favor de potências do [hemisfério] Norte, com interesses de transnacionais e do sistema financeiro internacional”, afirmou.

Para Lisboa, países como os Estados Unidos “querem transformar a América Latina em seu quintal e, no caso do Brasil, tiveram na elite corrupta brasileira o apoio para derrubar Dilma Rousseff sem que ela tenha cometido crime algum, o que deu início a todo o processo que resultou na eleição de um candidato de extrema direita”.

Isso porque, segundo Lisboa, o passo seguinte do roteiro do golpe foi a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem crimes nem provas, em um processo apontado por renomados juristas brasileiros e internacionais como inconsistente. “O Brasil inteiro sabia que Lula seria eleito presidente, por isso fizeram de tudo para impedi-lo de participar do processo eleitoral”.

Ao fazer a análise da eleição presidencial, Lisboa denunciou o processo marcado pela disseminação em massa de notícias falsas que interferiram no resultado final do pleito.

“A campanha foi baseada na falta de debate de propostas entre os principais candidatos e na disseminação de notícias falsas que deram vitória a Jair Bolsonaro, um candidato fascista, de extrema-direita, que já prometeu, entre outras coisas, mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, e acabar com ministérios como o do Trabalho e Meio Ambiente”.

O secretário de Relações Internacionais da CUT lembrou, ainda, que Bolsonaro tem a pretensão de romper o Acordo de Paris e tornar o país submisso não apenas aos Estados Unidos, mas especialmente a Donald Trump, o presidente de extrema-direita norte-americano.

Justiça seletiva

O dirigente cutista alertou que um olhar menos atento aos fatos pode levar parcela da população a acreditar que todo o processo do golpe foi legítimo, pois importantes forças articuladoras fazem parte do Poder Judiciário, o que passa a falsa sensação de legalidade do processo.

“Mas, na verdade, o mesmo juiz [Sérgio Moro] que investigou, julgou e condenou Lula foi quem criou as condições para que o ex-presidente fosse impedido de disputar a presidência. E agora, depois de ajudar a eleger Bolsonaro, será ministro da Justiça do novo governo”, denunciou.

Citação: A Justiça no Brasil não faz justiça. Ela aplica as leis para perseguir seus adversários políticos

Unidade e resistência

Lisboa finalizou seu pronunciamento lembrando que o campo progressista brasileiro, formado por partidos de esquerda, movimentos sindical e sociais criaram uma unidade e preparam a resistência contra a onda conservadora que se instaura no país.

noticeLula manda carta a sindicalistas e recebe homenagem em Congresso da CSI

Nesta terça-feira (4/12), os mais de 1.200 sindicalistas de 132 países, que participam do 4° Congresso Mundial da Confederação Sindical Internacional (CSI), viveram um momento de emoção ao participarem de um ato em defesa da liberdade do ex-presidente Lula, mantido preso político desde o dia 7 de abril na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

Lula mandou uma carta à CSI denunciando o golpe, ainda em curso no Brasil, que teve início com o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff, continuou com os ataques aos direitos sociais e trabalhistas, depois com sua prisão, após condenação sem crimes nem provas, e resultou no impedimento de sua candidatura à presidência da República, em 2018, mesmo liderando todas as pesquisas eleitorais.

Lula também reforçou a importância da atuação da CSI e a necessidade de um movimento sindical unido para lutar pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, no Brasil e no mundo, em defesa da democracia e para alcançar uma sociedade mais justa.

“Hoje, mais do que nunca, precisamos de um movimento sindical forte e unido para, juntos, lutar pela democracia, resgatar e fortalecer os direitos trabalhistas e alcançar uma sociedade mais justa e igualitária”, escreveu o ex-presidente aos participantes do congresso da CSI.

A íntegra da carta foi lida ao público pelo secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, ao lado dos sindicalistas da Central, que participam dos debates em Copenhague, capital da Dinamarca, onde é realizado o Congresso.

Carta de Lula à CSI

Congresso

O 4° Congresso da CSI encerra nesta sexta-feira (7), com a eleição da nova direção que comandará a entidade nos próximos quatro anos. Atualmente, a CSI é presidida pelo professor e cutista, João Antonio Felício, e representa 207 milhões de trabalhadores de 331 sindicatos nacionais em 163 países.

O portal da entidade transmite ao vivo a programação, inclusive com tradução para o português. Assista aqui 

(fonte: CUT)

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