Os participantes do Encontro Nacional Urbanitário de Combate ao Racismo, ao Preconceito aos Portadores de Deficiência e as pessoas com orientação LGBT, reunidos durante todo o dia 08 de novembro, no Rio de Janeiro, tiveram a oportunidade de debater uma gama de assuntos que raramente são colocados em pauta nas entidades sindicais.
Segundo o presidente da FNU, Pedro Blois, essa foi à motivação maior para a realização desta atividade. “O movimento sindical poucas vezes teve a coragem de debater com mais profundidade a questão do racismo, dos portadores de deficiência e o segmento LGBT em sua base. Essas pessoas tornaram-se invisíveis em nossas próprias categorias. Não temos dados confiáveis, não sabemos o que eles pensam e quais são suas reivindicações mais urgentes. Portanto, fizemos esse encontro com muito esforço e saímos felizes com seus resultados. Nestes dois dias aprendemos muito com os palestrantes e com a riqueza dos debates com os participantes. E deixo aqui o compromisso de realizar novas atividades, e de levar aos sindicatos o recado dado , de que é preciso avançar e discutir com esses companheiros e companheiras novas formas de participação. É hora de mudar e abrir nossas mentes” alertou.
Um dos palestrantes e trabalhador eletricitário da Cemig, Wellington Coelho, destacou que o homossexual sofre o preconceito no ambiente de trabalho. “Muitas vezes piadas são colocadas nos locais de trabalho de forma inadequada, e fere as pessoas. Tenho consciência que este é um processo cultural, fruto da nossa sociedade machista, mas que precisa ser mudado. Se as pessoas fizerem um exercício diário, e enxergar estas pessoas como seus iguais, é possível avançar. Eu considero que os sindicatos tem esse papel também. Já fiz palestras no Sindieletro e fui abordado por outros companheiros da empresa que são homossexuais, mas que têm receio em se assumirem no local de trabalho por medo de sofrer preconceito. Temos que mudar esse quadro”, disse.
A questão dos portadores de deficiente foi debatida na palestra do diretor do Sintergia e representante dos trabalhadores PCD de Furnas, Renato Andrade. Ele falou da mudança da lei da terceirização, que permitirá a fragmentação das empresas. “Em Furnas temos conseguido através de muita luta, ao longo dos anos, grandes avanços em nosso acordo no que tange os direitos dos companheiros e companheiras PCD. Não foi fácil, mas temos a certeza que com organização e mobilização é possível construir. Hoje, infelizmente com a aprovação da lei da terceirização foi aberta uma porta para os empresários burlarem a lei, e isso já vem acontecendo também em alguns setores da empresa que trabalho, mas não podemos desanimar. É preciso ter coragem para brigar e denunciar qualquer irregularidade”, falou.
A psicóloga Renata Braga, especialista no atendimento a comunidade LGBT moradora de rua, fez uma apresentação onde mostrou o descaso do poder público com essa parcela da sociedade. “Estou atuando junto aos moradores de rua na maior cidade do país. E posso afirmar que é lamentável o que o poder público faz com essas pessoas. Não existe respeito a sua identidade. O prefeito Dória vem promovendo uma política higienista na cidade”, denuncia. Para Renata é fundamental também que se combata desde cedo o preconceito, pois as crianças já são criadas recebendo uma mensagem diária de discriminação, como no caso da divisão das roupas e brinquedos para meninos e meninas. Segundo ela é preciso que os pais repensem seus conceitos, pois somente assim vamos poder criar uma sociedade sem homofobia, com tratamento igual para todos, inclusive para a população LGBT.
A assessora do deputado federal Jean Wyllys, Alessandra Ramos, encerrou o encontro nacional urbanitário fazendo uma ampla explanação sobre a situação da comunidade LGBT quando procura a inserção no mundo do trabalho. “A minha experiência pessoal comprova o que todos sabem, é muito difícil para uma pessoa LGBT conseguir um trabalho formal. Há alguns anos procurando emprego fiz 60 entrevistas e em nenhuma fui aprovada, mesmo falando seis línguas. Quando chegava ao local e fazia as dinâmicas de grupo conseguia me destacar, porém, quando viam que era uma trans as empresas me descartavam.Essa situação se repete todos os dias, e fica pior ainda para aquelas pessoas que tem baixa escolaridade e não tem acesso a informação”, diz. Para Alessandra as empresas precisam mudar, pois em vários países adoção da política de diversidade tem trazido ótimos resultados.
Fechando o encontro nacional foram feitos novos desafios pelo presidente da FNU, Pedro Blois, aos presentes, dentre eles a criação de grupos temáticos de raça, LGBT e PCD. Esses companheiros e companheiras terão a missão de fomentar o debate nos sindicatos, buscando dialogar com as direções, com o apoio da FNU e da CNU, que em breve estabelecerão uma agenda especifica de atividades para 2018.