A intenção do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) de abrir o capital (leia-se: privatização) da Corsan – Companhia Riograndense de Saneamento – teve mais um revés esta semana. A empresa adiou o lançamento de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que estava previsto para este 24 de janeiro. Segundo informações publicadas na mídia, os termos contratuais e timing de mercado fizeram com que o governo do Estado adiasse a privatização.
Na Corsan, a expectativa era fechar o contrato de ancoragem com Aegea e Perfin seu IPO, tendo como bancos coordenadores da oferta Morgan Stanley, Bank of America, Itaú BBA, Bradesco BBI, BTG Pactual, Safra e XP Investimentos. A empresa havia protocolado, em dezembro, na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o prospecto preliminar para fazer a IPO, com o objetivo de oferta tanto primária, na qual os recursos captados entram para o caixa da empresa, quanto secundária, na qual os acionistas vendem fatias das suas participações no capital da companhia.
A quem interessa privatizar a Corsan?
Desde que o atual governo gaúcho manifestou seu interesse em privatizar a empresa de saneamento, o Sindiágua-RS – sindicato que representa os trabalhadores da Corsan – vem questionando a decisão, apresentando números que revelam a eficiência da empresa e sua capacidade de investimento.
Arilson Wunsch, presidente do Sindiágua-RS, destaca que está sendo travada uma luta jurídica com ações no TCE – Tribunal de Contas do Estado, que instaurou uma Inspeção Especial sobre a privatização. “Também seguem ações judiciais nos municípios que assinaram novo contrato, questionando a forma que foram assinados, bem como estamos levando a CVM uma série de elementos que possam apresentar supostas irregularidades no processo, e é por isso, devido aos questionamentos feitos que a Corsan e o Mercado recuaram nesse momento, mas a mobilização e as ações de luta vão continuar para que se mostre a verdadeira face dessa privatização que é simplesmente a entrega de patrimônio público para os parceiros do mercado, a preocupação nunca foi saneamento e sim sempre foi negócio”, enfatiza Wunsch.
Estudo recente realizado pelos técnicos do Fórum em Defesa da Água e do Saneamento, com dados oficiais da Corsan, também comprova que a estatal tem todas as condições para atingir as metas de universalização de esgotos prevista na Lei 14.026/20 sem precisar de recursos privados. “Fica definitivamente derrubada a teoria forçada pelos Governo estadual e o gestor da Corsan que a meta só seria atingida com a privatização”, registra o documento. Entre os dados apresentados estão as planilhas de 2021 mostrando crescimento sete vezes maior no número de economias faturadas com esgoto, aumento de 8,57% comparado com o ano anterior, e ampliação também de 1,22% no percentual de economias faturadas com água.
Corsan cumpre seu objetivo
A Corsan tem 99,99% do seu capital controlado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul e foi criada em 1965 com o objetivo de fornecer saneamento à população do Rio Grande do Sul. Até hoje tem cumprido o seu papel, prestando serviços em 317 dos 497 municípios do estado, atendendo 6,3 milhões de pessoas por meio de contratos de concessão ou programa de vigência média acima de 15 anos.
Atualmente, a companhia possui uma rede de 29 mil quilômetros de dutos de água e 5 mil quilômetros de dutos de esgoto, com 168 estações de tratamento de água, 91 estações de tratamento de esgoto, 364 laboratórios, mil estações de bombeamento de água e 48 centros de controle.