Artigo: Lucas Tonaco*
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“Em terra de cegos, que não são tão desatentos quanto parecem, o que têm um olho só não é rei, ele é espectador” – Clifford Geertz, Local Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology (1983)
Quando a questão é privatizações, as elucubrações, hipóteses, cenários e toda uma tempestade de dúvidas sobre a mais essencial das perguntas é feita: determinadas empresas serão privatizadas ou não?
Trabalhadores destas empresas, sindicatos, movimentos sociais, “mercado(s)” (especialmente o financeiro), mídia e os mais diversos setores sociais convivem no cotidiano com esta pergunta.
Para ser objetivo e reduzir o escopo, o destaque aqui é para empresas de saneamento do Brasil, em 2023, COPASA como objeto. Inicialmente, é básico entender a construção para resposta da pergunta e a maneira com a qual percebemos o que poderá acontecer a prospecção das várias variáveis por trás de um simples sim, serão privatizadas ou não, nada se alterará. O essencial é partir dos pressupostos mais elementares é que esse desvendar do incerto, pode não ser tão incerto assim, começando com a ideia de teoria enquanto ferramenta, para além de Karl Popper no pragmatismo da construção de hipóteses e falseabilidades e adentrando mais nas concepções das antropologia(s) política(s) – especialmente ciência política – e adentrando na complexidade das relações políticas do Estado weberiano e seu gerencialismo com o capital – pois é no campo da política que as coisas ocorrem, válido lembrar bem brevemente que noção de campo é conceituada por Bourdieu como sistemas sociais em que cada agente tem uma posição fixada a priori, neste caso a política e suas relações com o capitalismo ou para além – do capital de Bourdieu em sentido mais amplo, inclusive o próprio capital político como ativo na construção da agência dos interessados, afinal, a grosso modo, política na teoria de Maquiavel se passa por interesses, circunstâncias e habilidade. Em síntese: entender como o próprio “mercado” ou só mais outro nome para uma categoria do capital, altamente interessado nas privatizações analisa a viabilidade dessas privatizações, ou mesmo sua probabilidade, embora muito do capitalismo neste caso tenha a ver com mercado de ações, pois em estrito modo a bolsa se torna uma espécie de balcão de apostas concentrando e recompensando aqueles que mais possam entender o movimento do capital a médio e longo prazo.
Na construção de soluções pragmáticas, objetivas e rápidas, o capitalismo, e sua tendência de alta especialização dos processos de saberes, principalmente o científico, ou em certo modo, como observa Bruno Latour na redução em atores e redes, todo um campo foi criado especialmente para responder essa pergunta sobre privatizações e várias outras, é a análise de risco político, uma disciplina complexa que avalia o impacto de eventos políticos e fatores de risco em investimentos, negócios e operações em todo o mundo, o tempo todo. Saber, e antes ou melhor, na teoria da informações e na sociedade da velocidade da luz da informação, é o melhor meio de obter a dita vantagem competitiva, ou a aliás, também o melhor meio de inclusive não perder capital. O mercado, procura portanto reduzir ou não cometer o erro mais primário de todos – o tal “Wishful thinking” , fenômeno amplamente conhecido na psicologia – que descreve uma forma de pensamento em que uma pessoa acredita ou deseja que algo seja verdadeiro ou aconteça, mesmo quando não há evidências sólidas para apoiar essa crença. Essa expressão sugere que a pessoa está “pensando como gostaria que fosse” (wishful thinking, em inglês) ou mais ou menos o que seria o dito “viès”, é que em vez de basear suas crenças em fatos concretos ou realistas. O “wishful thinking” pode ser um obstáculo para a tomada de decisões racionais e objetivas, pois leva as pessoas a verem o mundo através das lentes de seus desejos e esperanças, em vez de considerar os dados, evidências ou probabilidades reais. Isso pode ser particularmente problemático em contextos onde a objetividade e a análise crítica são essenciais, como em questões políticas, financeiras ou de negócios. É claro, o mercado, têm usa ideologia e ela transmuta, de tempos em tempos para aquela que mais se apropria da lógica da concentração do capital, e nessa “meta-análise” entre separar o que é simples ideologia ou paixão do que é a realidade (como se isso acontecesse objetivamente), no ethos atual, é importante notar que o próprio mercado têm as ideias dessa permeabilidade e que tenta ás vezes, inclusive errando, com wishful thinking colocar as suas próprias ideologias, sendo que “as ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante”.
Focado portanto na questão da análise de risco político, há conglomerados empresariais formados para tal, afinal, a informação como ativo também há um alto valor nessa atividade. Além da Eurasia Group, de Iam Bremmer, mundialmente famosa, há outros setores na dita “inteligência de mercado” para fazerem tais prospecções: Control Risks: Control Risks é uma empresa líder em consultoria de risco, incluindo risco político. Eles oferecem análises personalizadas e serviços de consultoria para ajudar as empresas a entender e gerenciar o risco político em suas operações globais.Aon Risk Solutions: A Aon é uma das maiores corretoras de seguros do mundo e também fornece análises de risco político. Eles ajudam empresas a identificar e mitigar riscos políticos em suas cadeias de suprimentos e operações globais. PRS Group: A Political Risk Services (PRS) é uma empresa especializada em análise de risco político e oferece índices e metodologias amplamente respeitados, incluindo o “International Country Risk Guide” (ICRG) e o “Political Risk Yearbook”. Essas ferramentas avaliam diversos aspectos do risco político, como estabilidade política, governança, risco de expropriação e outros. A Economist Intelligence Unit (EIU): A EIU, uma divisão do grupo The Economist, produz o “Country Risk Service” que avalia o risco político e econômico em países ao redor do mundo. Eles fornecem análises detalhadas sobre eventos políticos e suas implicações.E o World Bank Country Policy and Institutional Assessment (CPIA): O Banco Mundial realiza avaliações anuais das políticas e instituições de diversos países. Essas avaliações abordam questões políticas, econômicas e de governança, fornecendo informações valiosas para a análise de risco político.
No desenvolvimento da análise política, existem várias metodologias e estudos acadêmicos que são referência na área, citando dois dos principais, “Political Risk: Conceptualization, Definition, Categorization, and Measurement” (Risco Político: Conceituação, Definição, Categorização e Medição) – Este estudo, de Theodore H. Moran, é um dos trabalhos acadêmicos fundamentais sobre a conceptualização e medição do risco político. Ele ajuda a definir os conceitos-chave e as métricas usadas na análise de risco político e “Political Risk and International Valuation” (Risco Político e Avaliação Internacional) – Este é um livro de Ian Bremmer e Preston Keat que explora como o risco político afeta a avaliação de empresas multinacionais. Oferece insights valiosos sobre como incorporar o risco político nas decisões de investimento e também como direcionar o lobby de maneira segmentada.
Feito uma brevíssima introdução sobre como há um processo do próprio capitalismo em redução das incertezas e sobre a primariedade do erro de incorrer em misturar análises com desejos, breves análises sobre um talvez futuro, afinal, não existe bola de cristal, como se diz no jargão, mas há sim, indícios para o factual continuo não no longue durée mas sim, como historicamente no mito de Janus – a transitoriedade e da observância da cronologia enquanto campo, da política enquanto campo, das agências dos atores enquanto rede e das informações dos atores interessados, principalmente da imprensa mainstream e do red flag das ações no mercado enquanto termômetro para meta-avaliações coletivas destes mesmos agentes de mercado.
COPASA, indícios sobre ausência de movimentos contra o establishment da cultura política mineira como indícios de evidências negativas:
Os atores, o campo e o movimento – os recentes movimentos de privatização da COPASA iniciaram com a eleição de Romeu Zema, em 2018 e a onda do “liberalismo” híbrido, pois em cenário nacional, a onda bolsonarista da qual Guedes como o neo-jagunço de fração da elite financeira que visava “modernizar” o Brasil retirando a participação do Estado, podem ser facilmente explicados por Roberto Schwartz, nas ideias fora do lugar entre o fisiologismo de tal elite ao querer ainda embasar nos discursos de deslocamento tardio do liberalismo austero europeu pós-2008 e com os movimentos posteriores de compadrinhamento entre homens cordiais, para ficar no jargão de Sérgio Buarque de Hollanda, entre o ator, Sallim Mattar, então secretário de desestatização no Ministério da Economia de Bolsonaro, seus projetos personalíssimos – incluindo seus ideários sobre privatizações e também no cenário regulatório do legislativo até mesmo em nível nacional, onde em 2020 a lei 14026 foi promulgada, o que criou um ânimo no setor privado do segmento em saneamento.
Logo após a eleição, já em 2019 a Eurasia Group, mesmo em cenário muito favorável para o “boslo-zemismo”, destacou, em documento que alívios fiscais a curto prazo e a falta de apoio do governador Romeu Zema na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) pesam contra as privatizações e a aprovação do regime de recuperação fiscal como um todo. A Eurasia Group emitiu relatórios sobre o tema após análise do cenário nacional e estadual. A empresa norte-americana informou que a perspectiva permanece negativa para privatizações em Minas. De acordo com os documentos, os deputados estaduais são contra a ideia de realizar um referendo para alterar a Constituição do estado, o que seria necessário para privatizar as estatais. Fracionando a centralidade dos analistas da Eurasia:
- Alívios fiscais a curto prazo – cronologicamente, o fator dos alívios fiscais se intensificaram muito nos últimos 2 anos, causando inclusive constrangimentos das isenções de IPVA para Localiza com a participação de Salim Mattar no governo, que aqui enseja inclusive ainda relacionando com a questão dos atores, este mesmo Salim Mattar, deixando a secretária nacional de desestatizações e passando para secretária estadual de desestatização, em setembro de 2023, deixa o governo, alegando, segundo fonte aberta infelicidades com o processo de desestatização. Ainda sobre a temática das isenções fiscais, nota-se que, há avaliações, dentre elas do Estado de Minas que de alguma maneira relacionam exatamente a dificuldade de Zema em reversão de uma tendência inicial dificultando as privatizações, conforme em matéria de setembro de 2023, “Junto da econômica, igualmente tenebrosa é a relação política da qual Valadares foi escalado para resolver: as dificuldades dele se assemelham às dos três antecessores na pasta. Na semana passada, Zema conseguiu só 29 votos para autorizá-lo a viajar para o exterior. concluindo que: a eventual derrota no ICMS aumentado pode contaminar a base de Zema para as PECs prioritárias”. Objetivamente, portanto, o fator do aumento da carga tributária, penalizando sua própria base empresarial (FIEMG) em detrimento de frações de grupos empresariais da elite mineira, no caso Sallim, é um grande indício do agravamento dessa variável e não mostra coesão em um lobby que seria fundamental para lidar com as privatizações. Em adendo. ainda sobre essa variável, adiciona-se a complicação referente a grave situação fiscal de Minas, e em liminar própria visando a suspenção de repasses para a União, o próprio Ministro Barroso alerta para as contradições desse aspecto, destacando o aumento voluptoso da máquina pública em Minas, no caso evidenciando no aumento de salário dos servidores e do governador, além de tal, relados na adição de cargos de segundo e terceiro escalão no Estado e nas estatais (como jogo de indicações cruzadas com o legislativo) como correção simétrica para um governismo de coalizão fisiologista, clássico e histórico no Estado.
- Falta de capital político na ALMG: o fracionamento da agência política nesta situação pode ser dada em dois momentos – do processualismo do rito na ALMG no dito referendo,e da aderência desse mesmo rito para ativo no capital político e o quantitativo deste mesmo capital político como quórum na própria ALMG.
2.1) os deputados estaduais são contra a ideia de realizar um referendo para alterar a Constituição do estado – a previsão da análise para o referido objeto por parte da Eurasia, teve êxito: em 2023, inclusive já prevendo a alteração do art. 14, no inciso 17, em abril, entidades sindicais levaram um alerta desta alteração vindoura para o presidente da ALMG, Tadeu Martins Leite (MDB), 3 meses, depois, Zema envia um projeto exatamente com esta alteração, detalhe para o erro primário cometido no envio da PEC, a alegação de Zema que não têm base dos 48 deputados de maneira implícita, pedindo a alteração do quórum votante par 39, portanto além de informar que não teria a dita base dos 48 necessários, também quer reduzir o capital político do próprio corpus dos deputados de maneira quantitativa. O exemplo anedótico de modo indutivo que podemos portanto evidenciar neste objeto na análise de risco, é o caso do deputado estadual Eduardo Azevedo (PSC), irmão de Senador da República que em grande medida fez seu ethos político com base na própria ideia de privatização, Eduardo, que é da base “supostamente fiel ao governo”, explicita que: “Estamos alinhados com o governo, mas esse projeto não vejo com bons olhos, o de tirar o referendo popular. A população precisa ser consultada, se vivemos em um país democrático, é justo ouvir a população. Então sou contra o fim do referendo. Agora, sobre a privatização em si, eu sou a favor”. Historicamente, Itamar Franco em 2001 e também a inserção de Rogério do Correia (PT), que agora disputa inclusive a prefeitura de Belo Horizonte, o governador a época, iniciava os movimentos de proteção das estatais, de maneira engenhosa e hábil, coloca a tutela das estatais nas mãos do próprio povo mineiro, que é conservador, as evidências do pensamento mineiro enquanto perpetuação – ou como referenciado na obra de Burke (2003), continuidade – têm vasta e extensa documentação etnográfica, a exemplo de Lourenço (2014), em Cultura Brasileira e Marketing de Relacionamento: Um Estudo Etnográfico no Varejo. Uma desconfiança permanente e questões axiológicas da moralidade da conservação política, são duas características que embaraçam quaisquer movimentos de ruptura ou radicalidade contra esses valores políticos, sendo parte portanto da cultura, é necessário entender os movimentos de coerção profundas e essa análise se funda em Franz Boas, pois ela parte essencialmente do particularismo histórico. Em última análise sobre a variável, a última pesquisa, feita pelo DATATEMPO refletem que mais de 60% dos mineiros essa tendência de negação as privatizações.
2.2) Quantitativo do capital político na ALMG – outrora a Eurasia constava em relatório que em sua maioria, a ALMG rejeitava a proposição inicial das privatizações, é essencial evidenciarmos que atualmente o quadro se agrava baseado em, primeiro: a renovação da ALMG de 2018 para 2022 – elegeram 25 novos parlamentares para a 20ª Legislatura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que tem início em 1º de fevereiro de 2023. Outros 52 deputados estaduais foram reeleitos. Houve renovação de 32,46%, o que representa o menor percentual dos últimos 20 anos. Em números absolutos, sendo portanto até mesmo menor do que um quórum de ⅗ necessários para alteração legislativa, mesmo se toda renovação fosse da suposta base fiel ao governo. Dos 66 atuais deputados que tentaram a reeleição para a ALMG, 52 retornaram, perfazendo um índice de 67,53% de sucesso. Levando agora para o vetor da renovação – a maior parte é do PP, que elegeu cinco parlamentares para o primeiro mandato na ALMG, e do PT, com quatro novos representantes. O PT é o partido com maior representantes no parlamento mineiro (12), seguido de PL e PSD, com 9 cada, deixando a evidência que mudança de cenário legislativo de 2018 para 2022, foi na verdade negativa a Zema ou pelo menos se tornou no decorrer da legislatura, para o objeto em questão. O número da base alegado pela oposição (Bloco Democracia e Luta) é de 20 deputados e a narrativa de 57 deputados na base de Zema se mostra sem evidência alguma dado o histórico da votação ou mesmo do esvaziamento da própria casa legislativa a depender do tema. Agrava-se na análise partidária, começando pelo PL – partido muito marcado por posições de direita, e em Minas ligado a setores da segurança pública, declarações de seus líderes no segmento, tal como Sargento Rodrigues (PL) denotam a instatisfação com Zema, muito evidenciada inclusive dado a crise agravada em os aumento para políciais militares vivida entre 2020 e 2022, e narrativas feitas entre julho e agosto de 2023 para a mídia denotam isso – importante lembrar que o pensamento de direita na temática da conservação é anexo. Com relação ao PSD, declarações de seus quadros relevantes, como a de Alexandre da Silveira, em agosto, refletidas pelo O Tempo, de que fará o que for necessário para a não privatização da CEMIG, e também falas estabanadas de Zema com relação a coesão nacional, que levaram Rodrigo Pacheco, presidente do Senado e do PSD, a contraposição de Zema, era indícios indutivos do aspecto com relação a posições de Zema, já o indício dedutivo e direto, pode ser dado com relação a matéria publicada no Estado de Minas, em setembro de 2023 onde de maneira categórica afirma-se “um racha” entre o PSD em Minas Gerais; Para além dos dois partidos, os atores históricos no cenário mineiro, tal como Aécio Neves (PSDB), deu recentes declarações, em setembro de 2023, contrárias as privatizações a críticas ácidas a Zema.
No xadrez quantitativo é explícita em números a condição de que entre os 57 fiéis de sua base, Zema, muito provavelmente e bastante bem evidenciado, não têm os 48 necessários no momento presente e dada as circunstâncias eleitorais que avizinham no futuro, não há indícios para mudanças macro-conjunturais em tal processo, vide que a própria agenda eleitoral de 2024 naturalmente faz com que os parlamentares evitem polêmicas e transformações agressivas de agenda pois a aversão ao risco é característica das casas legislativas em tais cenários, especialmente na variável eleitoral.
Os dois eixos variáveis nos quais se edificaram a análise de risco político da Eurasia Group, como visto acima, permanecem, fortemente evidenciados ainda em setembro de 2023.
O calor dos movimentos da privatização da COPASA nos mercados: varejo do mercado de ações enquanto termômetros.
Outro aspecto bastante significativo a ser levado em conta a quaisquer metodologias de análise de risco político sobre privatizações é uma espécie de meta-análise do qual o zeitgeist do mercado se faz, traduzindo em posições além das posições binárias na compra ou na venda, há uma terceira: neutra. Os mercados além das análises políticas têm suas metodologias de obtenção de informações próprios, mas que em níveis de tomada de decisão, um clássico red flag na literatura do mercado financeiro sobre potencial de privatização seria movimentos de alta demanda (compra), ou o vulgo bull e até mesmo variações espontâneas, vide o simples aspecto da expectativa de valorização destas mesmas ações no futuro, com a empresa privatizada.
Em especial, as últimas análises das agências de avaliação relevantes do mercado, destacam-se:
1) XP Investimentos, no último informe de sua setorial especializado em infra-estrutura, em agosto de 2023 avalia que: o lucro líquido da Copasa foi de R$1,573 milhões, em linha (-1,2%) com nossa estimativa de R$1,592 milhões. Destaca-se que o volume faturado aumentou na comparação anual (+3,0% A/A para água e +2,8% A/A para esgoto), assim como a tarifa média (+15,7% A/A). O EBITDA ajustado foi de R$647,8 milhões, ligeiramente abaixo (-5,9%) de nossa estimativa de R$688 milhões.
A diferença em relação à nossa estimativa pode ser explicada por custos gerenciáveis 4% acima do esperado, excluindo os R$115 milhões não recorrentes da provisão para custos esperados do Programa de Demissão Voluntária. Em relação à linha final, a Copasa registrou um lucro líquido de R$249,3 milhões, abaixo de nossa estimativa de R$295 milhões. A dívida líquida atingiu R$3,33 bilhões no trimestre, e a relação dívida líquida/EBITDA foi de 1,5x. O Capex no semestre foi de R$688,5 milhões (incluindo Copanor), em comparação com o guidance de R$1,6 bilhão para o ano. Temos uma avaliação neutra do resultado da Copasa no 2T23. Última parte e mais relevante: ainda assim, continuamos vendo um risco-retorno pouco atrativo e mantemos a recomendação de Venda, com preço-alvo de R$ 17/ação.
2) JP Morgan – em relatório publicado em setembro de 2023, ao mesmo tempo que o JP Morgan recomendou “compra” para as ações da Cemig, o banco resolveu rebaixar para “neutra” a indicação para os papéis da Copasa, a concessionária de água e saneamento de Minas Gerais.
3) Não bastasse os dois exemplos dos atores econômicos de extrema relevância nacional na agência do mercado financeiro, e consequentemente na relevância de suas posições para decisão da neutralidade das ações, deixando ceticismo, até mesmo atores individuais de tal mercado, como Louise Barsi (AGF), explicitou em live no qual trecho tratava sobre COPASA, que apesar dos bons dividendos do setor, é necessário um trigger para o setor em especial, não evidenciando qualquer posição para as ações da COPASA (CSMG3).
4) Dados históricos da ações da COPASA ON – outra evidência do ceticismo do mercado com relação a privatização, no dado período após o protocolamento da PEC, no dia 21 de Agosto de 2023 na ALMG, é de movimento de desvalorização dos países, sendo de no presente momento (22/09/2023), cotado a 17,41 o menor pico para o recorte da série histórica pós-PEC e com pico de fechamento em 19,3, portanto, com variação -2.85%. É óbvio que a simples análise de variações não fornece nem mesmo a explicação sobre todas as variáveis do papel, afinal, há diversos outros fatores na composição de tais tendências, tais como cenário externo, cenário de inovações regulatórias, cenário das fundamentações econômicas e outras centenas de questões que influenciam no indicador, apesar dessas ‘’várias variáveis”, o que ficou evidenciado é a falta de animosidade ou o ceticismo dos investidores (ou do próprio mercado financeiro) com o processo de anúncio da PEC para a privatização da COPASA e além – no período, não houve alterações de tal humor além de evidências contrárias, levando ao pessimismo: em audiência pública em setembro de 2023, o responsável pela articulação da privatização no campo político, Gustavo Valadares (PMN), Secretário de Zema, anuncia o modelo de “corporação” (corporation) para as privatizações em Minas, se antes haveria um problema grave com relação a ausência até mesmo da modelagem de privatização, agora, o problema é até maior – após o anúncio as ações fecharam em baixa recorde para o período, de 4,35%, a complicação de anúncio de modelos inadequados para a expectativa do mercado financeiro fez o mesmo efeito na SABESP, operando com queda de 5% em agosto após o anúncio. E voltando ao modelo corporation anunciado: quando modelos considerados inseguros ou inviáveis são apresentados ao mercado financeiro, há complicações de incerteza regulatória ou mesmo jurídicas são também agravantes, pois no caso mais recente de privatização nacional, o da Eletrobras, é questionada a inconstitucionalidade de modelo pela Advocacia Geral da União (AGU) e da própria PGR (Procuradoria Geral da República) no Supremo Tribunal Federal (STF, detalhe que no anúncio da durante a fala, inclusive Valadares disse governo Zema vão deixar de utilizar a palavra “privatização”, um forte indício, mais uma vez da negatividade histórica, política e cultural da aderência dos processos de privatização em Minas. E ainda sobre a variável ator político, durante o ano vigente de 2023, foram quatro trocas de Secretário de Estado de Governo, demonstrando instabilidade interna e estratégias mal sucedidas nos caminhos para a viabilidade da privatização, sem contar, o já mencionado Salim Mattar, outro ator importante em outra pasta mas com tal histórico, levando inclusive a veículos de comunicação tal como o “O Tempo” ter anunciado um “Adeus as Privatizações”.
Analisando riscos da COPASA, horizontes possíveis para evitar o hoje improvável
Embora o ceticismo como analisado acima venha de maneira bastante evidenciada, não significa portanto que não haja riscos, afinal, se tratando de política, como diria Magalhães Pinto, é igual nuvem, muda muito rápido. As ações conclusões relativas a serem tomadas por todos aqueles que desejam análises menos cegamente apaixonadas por quaisquer fatores ou mesmo mais profissionais e científicas e aprimoradas com relação a análise de risco político de privatização da COPASA, deve ser portanto: metodologias de obtenção de informações do fluxo do capital político: diálogo constantes com os 77 deputados estaduais e de suas bancadas internas nas regiões dos estados, evitando o direct bias que determinados vieses podem dar, em especial atenção a análises dos cenários eleitorais em 2024, como pesquisas qualitativas nos termos da privatização. Atenção aos editoriais de noticiários do mainstream: O Tempo, Itatiaia, Estado de Minas e O Globo, frequentemente fornecem análises pautadas no establishment, que essencialmente mantém diálogo com os parlamentares mineiros. Aprimoramento de tecnologias e metodologias de análise de risco político: atualização de ferramentas de aplicação de networks node, e principalmente melhora na análise preditiva sobre o assunto. Por último e não menos importante é a própria melhora de noção de meta-análise: prospecções de mercado, tendência do mercado financeiro, especialmente no mercado de ações e também relatórios das próprias agência de análise de risco são fundamentais no momento.
É óbvio e evidente que para todos aqueles que desejam evitar o retrocesso do processo privatizador, que seja necessário, mais que nunca, as mobilizações populares promovidas pelos sindicatos,
e neste caso, em especial o SINDAGUA-MG, e se reforçar a principal liderança política sindical, Eduardo Pereira, presidente de tal sindicato e dirigente da CUT, seja com mobilizações nas ruas ou seja em mobilizações institucionais como audiências nas casas legislativas, seja nas Câmaras de Vereadores e em especial na ALMG, este processo têm impacto na representação política institucional que em termos legais é um obstáculo para a privatização, que neste caso, são os deputados e reforço aos parlamentares da base de oposição e também do campo da esquerda.
O fluxo de informações adequadas sobre perspectivas diferentes sobre o processo de privatização também faz parte da análise de risco político pois no processo dialético e de construção epistemológica sobre vertentes diferentes envolvidas no mesmo processo histórico, gerando assim maior cognição ao processo antropológico político, especialmente na ciência política.
Recorre-se na permanente vigilância para evitar, portanto, um erro que o capital não comete, o do wishful thinking na hora das prospecções de análise de risco político, e na evitabilidade dos vieses do pensamento mágico, pois ciência serve para nos dar uma ideia de quão extensa é a nossa ignorância é nessas situações.
Para finalização, outra primariedade emergente do processo adequado de metodologia na resposta sobre o futuro da privatização da COPASA é a mesma necessidade de melhorarmos adentro na análise de risco político e no momento é mesma máxima de Lévi-Strauss, em “O cru e o cozido” (1964), “sabedoria não é fornecer as verdadeiras respostas; é fazer as verdadeiras perguntas”, a necessidade de sabermos fazer as perguntas necessárias, é a mesma em que saber guiar a luta contra as privatizações rumo ao caminho verdadeiramente necessário.
* Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU e dirigente do Sindágua-MG