Artigo: Lucas Tonaco*
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Conforme vimos nas aulas, o objeto das ciências sociais é um tema abrangente e e que há muitas discussões em torno disso, com base no recorte de excelentes teóricos apresentados, exponho, alguns deles para  que possa explicar, sendo – Bruno Latour, Donna Haraway, Eduardo Viveiros de Castro, Ailton Krenak e Thomas Kuhn.

Para Bruno Latour, um renomado etnógrafo da ciência, sociólogo e filósofo da ciência, argumenta que o objeto das ciências sociais não é apenas estudar a sociedade, mas também a construção social da própria sociedade. Ele propõe uma abordagem chamada “teoria do ator-rede”, que considera as relações entre humanos e não humanos como centrais para a análise sociológica. Para Latour, os objetos das ciências sociais são as redes de relações sociais e materiais que moldam a vida social.

Para Donna Haraway, uma teórica feminista e cientista social, enfatiza a interconexão entre seres humanos, animais e tecnologia. Ela sugere que o objeto das ciências sociais é a compreensão das relações de poder e das interações entre diferentes entidades no mundo. Haraway desafia as noções tradicionais de identidade e subjetividade, argumentando que devemos reconhecer a multiplicidade de perspectivas e agências presentes em qualquer contexto social.

Para Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo brasileiro, propõe uma visão diferente do objeto das ciências sociais. Ele destaca a importância de considerar as cosmologias indígenas e outras formas de conhecimento não ocidentais. Viveiros de Castro argumenta que as ciências sociais devem buscar compreender as diferentes formas de vida e suas ontologias subjacentes. Para ele, o objeto das ciências sociais é a diversidade cultural e ontológica, e a necessidade de romper com as visões etnocêntricas e coloniais do mundo.

Para Ailton Krenak, líder indígena, traz uma perspectiva fundamental ao discutir o objeto das ciências sociais. Ele enfatiza a importância de considerar a relação entre seres humanos e o meio ambiente. Para Krenak, o objeto das ciências sociais é a interação entre a sociedade e a natureza, e a necessidade de uma abordagem que reconheça a interdependência e a responsabilidade em relação ao mundo natural.

Por último e não menos importante, segundo Thomas Kuhn, o objeto das ciências sociais é a investigação dos paradigmas existentes e a análise crítica de suas suposições fundamentais. Ele argumenta que as ciências sociais não são meramente objetivas e neutras, mas sim influenciadas por perspectivas e estruturas de pensamento específicas. Compreender esses paradigmas e seu impacto na construção do conhecimento social é fundamental para a análise das ciências sociais.

Com base nas ideias apresentadas acima por esses teóricos, podemos construir uma visão abrangente do objeto das ciências sociais. O objeto das ciências sociais não se limita apenas ao estudo da sociedade, mas também inclui a análise das redes de relações sociais e materiais, as interações entre seres humanos, animais e tecnologia, as diferentes ontologias e cosmologias presentes nas diversas culturas, a relação entre a sociedade e a natureza e a influência dos paradigmas na construção do conhecimento social. Essas perspectivas destacam a importância de uma abordagem interdisciplinar e crítica nas ciências sociais. Ao considerar a complexidade e a interconexão dos fenômenos sociais, somos desafiados a questionar suposições tradicionais e a adotar perspectivas mais inclusivas e contextualizadas. O objeto das ciências sociais é, portanto, um campo em constante evolução, que busca compreender e responder aos desafios e transformações da sociedade contemporânea.

Parafraseando Ailton Krenak, talvez uma das tarefas das ciências sociais hoje, seja “adiar o fim do mundo” – objetivamente (se é que possível falar em objetos), as ciências sociais têm a responsabilidade de analisar, interpretar e explicar os fenômenos sociais para fornecer insights valiosos para a compreensão e transformação da sociedade.

Uma das tarefas fundamentais das ciências sociais é a produção de conhecimento crítico e reflexivo. Isso envolve a realização de pesquisas empíricas, a coleta de dados e a análise rigorosa para compreender os processos sociais, as relações de poder, as desigualdades e as dinâmicas culturais. Essas pesquisas contribuem para a construção de teorias e modelos explicativos que permitem uma compreensão mais profunda dos fenômenos sociais.Além disso, as ciências sociais têm a tarefa de engajar-se com questões sociais urgentes e atuais. Isso implica em abordar desafios como a pobreza, a desigualdade, o racismo, a discriminação de gênero, as mudanças climáticas, a migração, os conflitos sociais e políticos, entre outros. Através da análise crítica dessas questões, as ciências sociais podem fornecer informações e perspectivas que auxiliem na tomada de decisões informadas e na implementação de políticas públicas mais eficazes. Também temos que lembrar que as ciências sociais também têm a tarefa de promover a consciência crítica e a participação cidadã. Ao investigar as estruturas sociais e os processos que moldam a vida em sociedade, as ciências sociais podem capacitar as pessoas a compreenderem melhor seu papel na sociedade e a se envolverem ativamente na transformação social. Isso inclui promover o diálogo intercultural, a diversidade de perspectivas e a busca por soluções colaborativas para os problemas sociais.

Portanto, a tarefa das ciências sociais hoje é gerar conhecimento crítico, compreender e enfrentar os desafios sociais contemporâneos, e promover uma participação cidadã informada e engajada. Por meio dessas tarefas, as ciências sociais desempenham um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável.

Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)