Entre os financiadores do Fórum das Corporações – autodenominado 8º Fórum Mundial da Água -, estão grandes conglomerados que usam a água como principal fonte de renda
As companhias transnacionais e entidades governamentais interessadas na gestão da água para os próximos anos, se encontram em Brasília, de 18 a 23 de março, na 8ª edição do Fórum Mundial da Água – Fórum das Corporações. No entanto, para os movimentos populares que acompanham a disputa pela água no Brasil, o encontro é, na verdade, uma reunião de organismos internacionais dispostos a tirar do papel os planos de privatização de um dos bens mais imprescindíveis à vida humana e aumentar seus lucros financeiros.
Entre as empresas que financiam o evento, estão grandes conglomerados que concentram na água sua principal fonte de renda, como a Nestlé, uma das principais comercializadoras de água mineral do mundo. Também capitalizam o Fórum a Ambev, fabricante de cervejas e a Coca-Cola, que além de bebidas gaseificadas também lucra com a venda de água engarrafada.
Para Gilberto Cervinski, coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem, o MAB, é claro o interesse dessas empresas na mercantilização da água.
“Todos os grupos econômicos internacionais que tem interesse em estabelecer a propriedade privada sobre a água estão envolvidos nessa construção do Fórum Mundial da Água. Eles nunca podem dizer que querem estabelecer a privatização, porque isso não soaria bem na opinião pública. O lema do encontro deles passa a ideia de compartilhamento da água. E, para eles, o que é o compartilhamento? É pegar a água do povo e partilhar [o lucro] para as transnacionais”.
A Nestlé, uma das principais financiadoras do evento, tem seu nome recorrentemente relacionado a projetos de privatização da água. Em um vídeo de 2005, Peter Brabeck-Letmathe, presidente do Conselho de Administração da empresa, afirma que é importante dar “valor de mercado à água”, para que as pessoas possam dar valor ao bem natural.
O tema também voltou a ser destaque nos grandes eventos deste ano. A gestão privada da água foi debatida nas mesas do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, evento que reúne economistas, empresários e políticos para discutir medidas de fortalecimento do capitalismo, aumento do lucro das multinacionais e exploração dos trabalhadores. Inclusive, durante o evento, o presidente golpista Michel Temer se encontrou com principais executivos da Ambev e da Coca-Cola justamente para falar sobre água.
Segundo Daniel Gaio, secretário nacional de Meio Ambiente, da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, este não é o primeiro Fórum organizado pelas companhias transnacionais que aponta para a privatização da água.
“O Fórum é o organizado pelo Conselho Mundial da Água, que não é uma representação multilateral, pelo sistema ONU. Pelo contrário, a indicação para a composição desse Conselho passa por governos e principalmente por empresas. Nós, entidades e movimentos sociais, sempre fizemos uma disputa de incluir a simples menção de que água é um direito. E até essa simples menção foi negada durante muito tempo nos documentos finais do Fórum”.
O Brasil é o país que detém a maior quantidade de água doce do mundo, com 12% do total. Mas parte de sua população ainda não tem acesso ao bem natural. Estados que costumavam contar com abastecimento regular, são atingidos constantemente por secas. Dois destes estados, inclusive, estão entre os principais financiadores do Fórum: São Paulo, representado pela estatal de saneamento Sabesp; e o governo do Distrito Federal.
Cervinski aponta que é questionável a organização do Fórum, realizado a cada três anos em diversas partes do mundo desde 1996, na cidade de Brasília, justamente no período em que o município passa por um longo racionamento. “A gente sabe que uma das questões que eles fazem é criar os tais racionamentos, através da teoria da escassez, para gerar apelo para a privatização. Por coincidência, esse é o único estado que passa por um racionamento sério. Inclusive, o Distrito Federal está em plena crise de abastecimento de água. E nós temos uma grande desconfiança”.
Organizações populares farão, durante o período do Fórum Mundial da Água, um evento alternativo, para debater o uso da água como um bem popular. O FAMA, Fórum Alternativo Mundial da Água, começa neste sábado dia 17/3 e segue com diversas mesas de debate sobre o tema. (fonte: Brasil de Fato)
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A Federação Nacional dos Urbanitários – FNU -, que apoia e integra a coordenação nacional do FAMA 2018, subscreve o Manifesto do Fórum Alternativo Mundial da Água por entender que “água deve estar a serviço dos povos de forma soberana, com distribuição da riqueza e sob controle social legítimo, popular, democrático, comunitário, isento de conflitos de interesses econômicos, garantindo assim justiça e paz para a humanidade”.
Água é um direito, não mercadoria!
O Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA 2018 – entre os dias 17 e 22 de março
A iniciativa questiona a legitimidade do ‘Fórum das Corporações” – autodenominado 8º Fórum Mundial da Água – como espaço político para promoção da discussão sobre os problemas relacionados ao tema em escala global, envolvendo governos e sociedade civil. Dizemos NÃO ao Fórum Mundial da Água, apontando a falta de independência, representatividade e legitimidade do conselho organizador, por estar comprometido com empresas que têm como objetivo a mercantilização da água.
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