Não há como pensar em um futuro melhor sem planejamento e discussão de ideias. A premissa vale para os setores de gás, energia, meio ambiente e saneamento, que estiveram em debate na tarde desta quarta-feira, dia 29 de setembro no 1ºCongresso Extraordinário da Fruse. A mesa teve como tema “Desafios e Perspectivas dos Segmentos de Energia, Gás, Saneamento e Meio Ambiente” e o debate foi mediado por Hélio Anomal do Staecnon de Campos de Goytacazes (RJ).

Por mais de duas horas, o evento abriu espaço que especialistas traçassem o passado, o presente e o futuro de setores estratégicos para o desenvolvimento do Brasil e que estão sucateados e destruídos após a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e integrante do Ilumina, Clarice Ferraz mostrou que o Brasil extrai a sua energia elétrica de fontes limpas, mas que não há como negar que a crise vivida no país não é exclusividade sua, pois diversos países europeus já convivem com a pobreza de opções para geração de energia. Diante disso, para ela, o desafio é construir um período de transição que faça a alocação e compartilhamento para novas fontes de geração de energia e que não produza tarifas exorbitantes à sociedade.

Neste contexto, na visão de Clarice, existe um perigo presente e patrocinado pelo atual governo – a privatização -, que produziria de imediato o desmantelamento de um sistema de gestão calcado na integração. “Os engenheiros que construíram a Eletrobras nas décadas de 1950 e 1960 foram felizes em pensar a empresa para atender o país como um todo”, disse. “Com a privatização, haverá um desmantelamento e cada usina terá um controlador. Não dá para individualizar os riscos”, pontuou Clarice Ferraz, sem perder de vista o potencial presente nos reservatórios das usinas hidrelétricas.

Crise de energia não é fruto do acaso

Ex-presidente da Petrobrás no Governo Lula, José Sérgio Gabrielli não teve pudor em analisar que a crise de energia está longe de ser fruto do acaso. “A crise elétrica é decorrente da má gestão de um sistema complexo criado nos últimos anos”, afirmou.

Gabrielli recordou que nos últimos anos, o setor elétrico passou por um processo de pulverização para geração de energia e que diminuiu a dependência das usinas hidrelétricas. Tanto que, segundo Gabrielli, o índice de energia gerada pelas hidrelétricas que, nos anos 1990 era de 82% e caiu para 63%, com a inclusão da geração de energia solar, eólica e de biomassa. Apesar disso, a incompetência do governo federal, segundo ele, pode abrir espaço para um cenário desolador em médio e longo prazo. “Os apagões pontuais já começaram acontecer, mas o sistema está no limite. E quem vai sofrer são os consumidores tanto residenciais como os industriais”, afirmou.

Em relação a Petrobras, Gabrielli lamentou a ausência de investimento nas empresa e a venda de suas várias unidades de negócios. “Existe uma falta de investimento e planejamento e espera-se que tudo seja resolvido pelo mercado. Está errado”, completou.

Assessor da FNU e secretario Executivo do ONDAS, Edson Aparecido fez um relato dos processos de privatização do setor de saneamento e como instrumentos do poder público podem ser utilizados para o seu próprio desmonte. “Temos que lutar contra o processo de privatização e lutar pelos direitos dos trabalhadores que serão afetados neste processo”, explicou.

Ex-presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu exibiu em gráficos e planilhas como o atual governo Federal caminha para inviabilizar o setor energético. Inclusive com medidas temerárias, como a utilização sistemática das usinas termelétricas. Segundo ele, as usinas hidrelétricas podem e devem ser utilizadas, desde que sejam aplicadas regras especificas para sua utilização. Uma medida acertada, segundo ele ao se levar em conta que mudanças climáticas podem até restringir no futuro o poder de uso destes empreendimentos. Algo que, segundo ele, deveria vir acompanhada de uma mudança até de conceito para gerir a geração de energia elétrica no Brasil. “Diante dessa perspectiva de esgotamento de produção deveríamos pensar em um Ministério de Transição Ecológica e Energética no Brasil”, arrematou.

Por Comunicação Sinergia CUT e Comunicação FNU/CNU

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